Difícil pescar algo desse ninho de mafagafos que WASP NETWORK de fato é: Um emaranhado de cenas, um arrevesado de personagens, um embaralhado de diálogos, uma história fragmentada que quica entre o passado e presente, 2 horas antes, 3 semanas depois, isso entre Cuba aqui ou Miami acolá, espionagem ou contraespionagem, terrorismo ou contrarrevolução. Um filme sem qualquer senso de decupagem, nenhuma empatia, carisma ou algo que valha, como se bastasse ao expectador se encaracolar pelos cabelos de Penélope Cruz, o peito peludo de Édgar Ramírez ou o sorriso enigmático de Wagner Moura, e cada vez mais enrolados nessa projeção – o público, os personagens, o diretor – ficamos sempre à deriva no mar, observados de longe por um cinema teco-teco.
Exibido em Competição no Festival de Veneza e devidamente martirizado por isso, diz a lenda que Olivier Assayas voltou à mesa de edição logo depois, mas parece que não resolveu seu filme porque a encrenca é boa e é impossível desmafagafar esse ninho de vespas. A história é confusa, multifacetada e desinteressante, os personagens explicam, o narrador explica, tem legenda, tem cartinha de amor, narração em off e sinal de fumaça, mas ninguém entende a bagunça, nem talvez um bom desmafagafador. David Lynch talvez ficasse orgulhoso, Christopher Nolan procuraria A ORIGEM desse buraco de minhoca, mas Assayas se restringe ao plano e contra plano, as idas e vindas, um ping-pong interminável e confuso. Carluxo gosta.
Inspirado no livro de Fernando Morais, “Os Últimos Soldados da Guerra Fria”, a história conta o vai e vem de um piloto que deixa sua esposa e filha em Cuba para tentar uma nova vida nos Estados Unidos, isso nos anos 90. No entanto, ele se envolve com um grupo de exilados cubanos, se torna parte de um grupo de espiões pró-Castro e passa a observar associações terroristas para, por fim, ele próprio ser preso (e condenado) por espionagem. Ou seja, seria um thriller político, complexo, factual, de muitos subterfúgios e que se estende por muitos anos, mas não o é. Tal como foi feito, montado, filmado, tão ambíguo, tão moralmente sinuoso, não nos diz nada. Nenhuma emoção. Nenhuma lágrima. Infelizmente.
RATING: 58/100
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