Climax


É um, é dois, são vinte e é IRREVERSIVEL: Do diretor que ejacula em nossa cara, como fez em LOVE, ou nos penetra em uma vagina, como fez em ENTER THE VOID, o CLIMAX de Gaspar Noé se torna um evento sintomático, um cinema que explode, espontâneo e exponencialmente na tela em um frenesi alucinante e abundante de mil pernas e corpos e vozes que repinicam e rebatem e revolteiam na suruba coreografada de um grande plano-hipnose-sequência de 20 minutos. E depois, ao final da dança, os pés cansados até sangrar, o corpo esfolado de tanto ensaiar, o músculo suado e exausto, a festa afinal começa, o filme começa, a sangria é servida, o coração dispara e a loucura pulsa, os sentidos são ampliados, reduzidos, deturpados e digeridos. O transe tem sede de sangria. Os corpos clamam por dança então os personagens dançam e rodopiam e giram, enquanto o público se vicia no horror e o diretor se diverte adoidado, filmando essa histeria bacanal no inferno.

Portanto, eis a discoteca que Noé construiu: vidas, gloriosas ou vergonhosas, acabam ali, no copo vazio de sangria derramado na pista, no corredor, na privada que gira enquanto o álcool carcome o cérebro. Logo, a existência se torna uma ilusão e o filme, que parte de alguns dançarinos em uma noite de dança, se esvai em prazeres: são vinte, é dois, é um, o clímax na neve. O descontrole de animais nas profundezas de um porão, festejando seu rastro de sangue e suor, alegria e dor, conquistas e erros.

Ao cineasta, cabe apenas servir um gole e filmar o resto, uma sessão xamanística psicotrópica de atores e não-atores, e todos no improviso e no caos, uma pagina de roteiro e um tanto de anarquia. E cada um, ao seu modo e estilo, no voguing, no waacking ou no krump, todos possuídos pelo transe ritual, a proeza física, a competição electro, senão uma batalha entre corpo e mente, realidade e… sangria! Ame ou não essa (nova) provocação, saiba que o clímax está ali, confinado no copo e no corpo. E, sim, é irreversível no sentido orgástico da palavra.

RATING: 82/100

TRAILER

Article Categories:
FILMES · CANNES · TIFF

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