SELVAGEM é um personagem, uma energia. É resistência. Uma força viva interior. Um jovem solitário que vagueia pela cidade, o parque, as estradas, de um encontro para outro, de amores, por amores… E por amor, ele se vende, vive, respira. Por amor, ele se mantém vivo. Por amor, ele sofre, sufoca, lhe falta o ar. Por amor, se sente solitário. É uma doença. É um sentimento. É extremamente selvagem e contagioso. Camille Vidal-Naquet, portanto, filma os sintomas: Em sua terapia, em três cenas, o protagonista vai ao médico se tratar dos amores, primeiro o sexo, depois a solidão, por fim, o desajuste. Ao longo do filme, essa doença-sentimento é curada. Na primeira cena, Leo está doente, tosse seca, dores no estomago, vários hematomas. Sofre de amor, naturalmente. O médico lhe faz uma massagem e o libera. Depois, no meio da projeção, ele retorna machucado para uma nova consulta, a médica faz seu diagnóstico, lhe receita alguns remédios, o consola, sim, amor tem cura. E, ao final, ele está saudável, já não sente mais nada, diz ao doutor, mas como podes viver sem amor? É inadmissível. Impossível. Vemos a recaída. E é um soco no estômago.
Para o roteiro, o cineasta foi à Bois de Boulogne viver entre os garotos de programa. E viveu lá por três anos, reunindo material, histórias e outros relatos. Dali, criou um (estudo de) personagem impressionante. E sob a pele de Félix Maritaud (que se lançou ao mundo com 120 BATIMENTOS POR MINUTO) filmou as contradições de um lugar, sim violento, mas que, vez ou outra, eclode em delicadeza. Na tela, o ator usa de seu oficio para sugar toda a doçura do mundo, para beijar alguém ou dormir em seus braços. Ele não compartilha do cinismo ou desapego de seus companheiros de trabalho. Na verdade, eles o acusam de sua atitude, que percebem como falta de profissionalismo. Eles estão na profissão para ganhar dinheiro, enquanto Léo está ali pelo prazer. Ele não quer dinheiro. Não precisa dele. Come da boca do lixo, bebe da sarjeta, dorme sob as estrelas. Vive de amor. Morre aos poucos de amor.
E com ele, vivemos, compartilhando cada momento vertiginoso de sua jornada, os sentidos, o sexo, a completa desorientação que vem com a exclusão. Também a inocência e a infantilidade, algo completamente distante do ambiente que vive. E o qual ele nem pensa em fugir, porque essa é a vida dele. Ele nem sabe o que é “sair disso”. Vive, portanto, selvagem. Invisível. É um animal acuado.
RATING: 80/100
TRAILER