Destacamento Blood

APOCALYPSE NOW, ontem e sempre… e assim Spike Lee revisita outro (triste) episódio da história americana e o faz sob olhos negros (e olhos que condenam): seu filme construído de (in)GLÓRIA FEITA DE SANGUE, o sangue da herança de mártires e anarquistas, do espirito de soldados e heróis, da revolta dos ex-escravos e derrotados. O sangue de homens negros, amarelos, cor napalm. De irmãos de sangue, de luta, unidos em armas e pensamento à guerra que não lhes pertenceu, por uma pátria que jamais lhe acolheu. Guerreiros unidos na ordem de sangue. E esse é o DESTACAMENTO BLOOD que o cineasta filma, ao fundo o discurso pacifista de Muhammad Ali e Martin Luther King, a frente – e de punhos cerrados -, a convulsão de tantos outros brutalmente asfixiados pela história que os silenciou, o vento levou, condenou, sentenciou e amaldiçoou.

Então, nesse cinema-guerrilha, o cineasta filma quatro veteranos dos palcos – Delroy Lindo, Clarke Peters, Norm Lewis e Isiah Whitlock Jr. – velhos atores cujo protagonismo sempre lhes foi negado, mas, aqui, nesse destacamento, nessa missão de resgate do soldado Norman, se tornam o ápice de suas carreiras, e em especial de Delroy Lindo, cujo texto (ou a cobiça?) lhe é mais generoso. São, portanto, um grupo de soldados em busca de seu falecido capitão (ó capitão!), veteranos de guerra retornando ao Vietnam em novos tempos, quase 50 anos depois do “apocalipse” que Coppola filmou, e que Spike Lee costura agora, indo e vindo no tempo, emoldurando seu panfleto conforme os enquadramentos da janela de exibição, e aos olhos dos seus soldados, reduzindo e ampliando, avançando e voltando, cada época em seu horizonte.

Há também o ouro escondido… a mesma fábula do “TESOURO DE SIERRA MADRE” que John Huston filmou em 1948, mas reescrito agora em um faroeste mais contemporâneo, num argumento mais atual, enquanto a própria história #BlackLivesMatter é (re)feita. Ou seja, um filme a princípio de aventura (assim como o filme anterior INFILTRADO NA KLAN insinuava com a comédia), isso com toda sua ação e reviravolta, mocinhos e bandidos, mas logo nos surpreendendo na edição, na montagem rápida de imagens subliminares de arquivo, nas vísceras da própria Guerra dos anos 70, de hoje, como se tudo fosse um pretexto pedagógico de reflexão. Um verdadeiro instrumento de justiça e retórica. E não à toa os mesmos atores interpretando os mesmos personagens no presente e passado: Para o diretor, em toda sua história, nada mudou. A guerra nunca termina, seja lá longe na Ásia ou mesmo à espreita na vizinhança. Então, cabe aos jovens (talvez o público?) fazer alguma coisa, fazer a coisa certa.

RATING: 81/100

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