No clima sócio-político atual dos Estados Unidos, os anos 50 são difamados ou celebrados, dependendo de sua persuasão política e demográfica. São tempos de “Make America Great Again”, referências implícitas (às vezes explícitas) quanto as normas de gênero e supremacia masculina e branca, ou então a arquitetura de uma cultura e política, a aspiração desenfreada como combustível de toda a sociedade. THE MOUNTAIN veio perturbar a cinematografia retro-narrativa e estética que ajudou a fomentar essa nostalgia. Ele tenta interromper a narrativa como um agente anestesiante e força o espectador a considerar o recipiente que carrega a história. Rick Averson propõe o confronto, um filme problemático, um filme anti-utópico, que reafirma a beleza e a necessidade do finito, ame ou deixe.
E o faz num experimento científico: Nessa filmoterapia, insere dois personagens e um trauma, Tye Sheridan e Jeff Goldblum, o jovem em plena emoção e fragilidade, o doutor em comício pela lobotomia. E desse laboratório, cria-se um drama, o rigor como força combativa e a nostalgia como atração.
Para o cineasta, “o cinema popular americano sempre terceirizou utopias comerciais inatingíveis e degradou os instintos do público em relação ao pensamento crítico”. Isso faz parte do filme e das intenções do diretor: Ele quer um público ativo, que lide com o filme como algo fora de si. Que lutem com e no filme, não apenas sob a influência da narrativa, mas de toda a amplitude de seus temas. Ele quer espectadores céticos, que questione seu uso e autoridade, afinal esse cinema como um todo. Daí a metáfora, porque a lobotomia era um procedimento para projetar passividade em mentes inquietas. Em um sentido amplo, a indústria do entretenimento tem uma motivação semelhante. Rick tenta apenas algo diferente, na forma e no conteúdo, talvez uma terapia de choque.
(*) Crônica livremente inspirada do material cedido pela The Match Factory, incluso entrevista com o diretor
RATING: N/T
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