Louis XIV admira seu jardim, sua corte, seu banquete. O rei está velho, farto e entediado. Seus cachorros são um certo alivio. Amados cães. De fato, “eles são esplendidos, majestade”. O rei está empachado. Em sua intimidade, o conselheiro discute assuntos de estado. “A marquesa de Sadormy tem deliciosos jardins para se brincar, majestade”. O rei acena com seu chapéu, a corte sorri. Vejam! O rei está comendo um ovo. Oooooh. A corte explode em palmas. O rei come um biscoito. As marquesas se deleitam. Aplaudem. Bravo! Bravo, majestade! O rei está morrendo. Que triste. Estamos desolados.
E é nessa pompa e circunstância, nas sombras e no veludo, que Albert Serra filma Jean-Pierre Léaud gangrenar. Seu roteiro é nada, um papel de seda. Seu filme é o rei em agonia. Seus últimos dias, a perna apodrecendo aos poucos, o ator definhando na tela, vivendo nos sussurros, de sussurros, seu olhar já morto, fatigado. O rei está convalescente. Com ele, o público segue em eterna vigília. Há tambores, oboés e violinos para agradar o rei, sua majestade não ouve. Há comida e vinho para satisfazer o rei, sua majestade não come.
Os médicos não sabem o que fazer, o rei se consome em febre. A perna apodrece. Madame de Maintenon prepara o testamento. O Cardinal de Rohan lhe dá a extrema unção. A perna está preta. A corte, inconsolável. O luto se aproxima enquanto o cineasta filma. Um monótono e repetitivo espetáculo visual, donde o Rei Sol se apaga lentamente, o esplendor se indo aos poucos. Ao final, como anuncia o título, o rei está morto. Os médicos não sabem precisar o motivo, a causa da morte. Estão perdidos. Desorientados. Não importa. Um deles se vira para a tela e anuncia: “Nós vamos acertar da próxima vez”.
RATING: 80/100
TRAILER