Um filme encenado em teatro dentro da cabeça de um roteirista que é homenageado em um programa de televisão e Bing Bang! Wes Anderson filma a explosão, o cosmos, o paraíso, a infinita imaginação… e o faz num diorama kaufmaniano, uma singela homenagem aos palcos de antigamente e àqueles que o fazem existir. Não à toa esse cenário reluzente, uma cidade cratera feito live action do cartoon do Papa-Léguas para habitar um elenco genioso, uma constelação de estrelas a brilhar em cada cena, em cada minuto de projeção sua não-personalidade. Sim, um estrondoso cinema (ou peça? Ou roteiro? Ou biscoito?), inconfundível como sempre pelo humor seco, o melodrama espirituoso, esse fetiche visual extremamente simétrico sob uma luz – nem quente, nem fria – sempre clara, implacável.
Aparentemente Asteroid City não existe, mas se existisse, haveria um congresso retro futurista, onde adolescentes participariam para receber prêmios por diversas invenções de ficção científica, como aceleração botânica ou desintegração de partículas. A cidade fica – ou ficaria? – no meio do deserto, teria um café, um motel, um posto de gasolina e uma atração, uma cratera criada por um meteorito que caiu na Terra em 3007AC. E lá, todo tipo de coisas pequenas acontecem, inclusos enterros, objetos não identificados, militares apreensivos, Seu Jorge… uma divertida história portanto, que talvez não exista porque está no roteiro, sequer foi encenada ou nem escrita, mas você vê e ri algumas vezes tamanho o absurdo, a nostalgia, esse pacote “Wes Anderson” completo pronto para o consumo.
Aliás, deliciosas sacadas sobre religião, mundo hippie e – veja só – consumismo desenfreado (terrenos que podem ser comprados em um jukebox? Por que não?). A nostalgia nos remete imediatamente ao infinito e além, centenas de referências cinematográficas em cores efervescentes, seria um faroeste? nouvelle vague? Ficção cientifica? Quem se importa, há muito o que ver, talvez uma, duas vezes para acompanhar tudo, entender a morte, outros mundos, a tela que se divide, muda a janela, estremece, os atores em cena, fora de, preto no branco, olha lá um alienígena sorridente! Cadê o meteoro? E a musiquinha onipresente de fundo: tin tin tin tin.
De novo, o cineasta utiliza o artifício da história dentro da história e situa a ação (ou público?) em dois planos cromaticamente diferenciados: o multicolorido da peça teatral versus o preto e branco dos bastidores. O sarcasmo típico também não falta: as filhas do protagonista têm nomes de constelações, uma das personagens é chamada de Mercedes Ford e a Disney Quarentena é uma das invenções mais malucas do cineasta. O desenho de produção já surpreenderia por si só, sem o contexto da tropa de atores diante dos holofotes, mas fica melhor ainda com Jason Schwartzman, Scarlett Johansson, Tom Hanks, Jeffrey Wright, Tilda Swinton, Adrien Brody, Margot Robbie, entre tantos, quase 30 atores do multiverso Wes Anderson, sim, um casting dos sonhos para uma có(s)mica sessão da tarde.
RATING: 78/100
TRAILER