É um novo começo… Para Charlie, o jovem protagonista que veio para Portland com seu pai ausente, embriagado ou perdido em algum puteiro, sua mãe nem se sabe aonde está. 15 anos e nada para fazer, talvez um filme de verão, um horse-movie, uma amizade em um mundo Disney. Também para Andrew Haigh, o cineasta britânico que veio à América, deslumbrado pela paisagem, a estrada, o deserto, as andanças de um menino e um cavalo, histórias dentro de histórias, tudo filmado em primeira pessoa, com sotaque e economia, o olhar e a imaginação de um garoto. Há esperança para Charlie? Ele pode salvar o Pete? Há apenas uma maneira de descobrir…
Então, do aclamado romancista Willy Vlautin, o cineasta filma outra história de amor e desilusão, a exemplo de WEEKEND, 45 ANOS e LOOKING, mas agora o faz de outra forma, mais ingênuo, mais amigável, ainda que triste. O cavalo está doente. Deve ser sacrificado. E daí, surge um filme de estrada, uma pequena jornada para o grande desconhecido, a odisseia pela fronteira americana, aventura e desanimo, esperança e resiliência. O sonho tão longe, mas cada vez mais perto, o público junto, em cada percalço, em cada lagrima, ali torcendo, enquanto a solidão invade a tela, abrange os espaços, nessa grande novela americana.
E se Vlautin escreveu em seu romance que “é verdade que somos fracos e doentes e feios e briguentos, mas se isso tudo é o que sempre fomos, nós, há milênios, desapareceríamos da Terra”, é Haigh que filma tal epígrafe, através do infatigável Charlie, dia após dia, luta e revés, andando e andando em busca da estabilidade e um sentimento de pertença, embora com a projeção, tudo se torne menos seguro e menos estável, até mesmo perigoso. Um filme doloroso (o livro também o é), mas nunca sentimental.
Desse cruzeiro pelo oeste americano, por caminhos tortuosos e áridos, viajando por Oregon, Idaho, Wyoming, Utah e Colorado, visitando feiras de condados, assistindo corridas de cavalos ao longo do caminho e imergindo na cultura regional, ficando em motéis, acampando na estrada, comendo latas de pimenta, LEAN ON PETE vai aos poucos nos seduzindo pela abordagem melancólica, pela história de amor sobre um menino e seu cavalo tentando segurar uma América implacável, UMA HISTÓRIA REAL, diria David Lynch, uma história americana, diriam todos os outros.
(*) Crônica livremente inspirada do material cedido pela Celluloid Dreams, incluindo notas de produção
RATING: 74/100
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