Honeyland


Por Eduardo Benesi

Uma das muitas e tantas belezas de HONEYLAND é o fato de ser um filme quase isento do tempo comodificado. O cinema vai apenas acontecendo sem-querer-querendo, o nada nunca é elíptico, o instante é apaziguado e jamais esconde uma linda paisagem e a duração que ela pede. Nesse enquanto, vamos absorvendo uma construção dramática dentro do que geralmente se entende como um gênero de registro informativo e essa distorção de fronteira (real-ficcional) ganha uma dimensão poderosa promovendo a limpeza dos verbos.

Não era pra ser um documentário da Macedônia sobre abelhas? Sim, elas estão lá, rejeitando a mais-valia abusiva, pedindo a sua justa porção de favo caso contrário revolução proletária e morte aos vizinhos. Elas são fundamentais ao argumento da história, basta apenas imaginar o roteiro sem as mesmas enquanto elementos irradiadores. O engenho narrativo emprega o objeto de estudo dentro daquela pretensa carreira temática sem ostentar importâncias. Ao invés do didatismo globo-repórter, a própria instância dos desdobramentos vai revelando aqueles insetos como síndicos informais regendo o drama humano de um presente arcaico.

O marasmo é apaixonante quando você entende que o cinema é uma captura temporal sem limites poéticos e essa contagem faz mais sentido quando reparamos na noção genuína de contemplação, aquela que não se esforça pelo preenchimento, aquela que nos pede paciência para que o tempo dure sua honestidade. Quanto tempo vale um filme? Tal noção nem sempre é parelha à contagem real. Nesse cálculo subjetivo vamos negociando a nossa própria avareza com os ponteiros, vamos aprendendo a diferenciar filmes longos de obras filiadas ao tempo orgânico das coisas ou a ilustração honesta do literal.

A câmera registra qualquer contato humano trivial, a apicultora Hatidze nos dá os olhos inteiros, potáveis, conformados, olhos de quem sempre anda a pé. A noção de felicidade, quase primitiva, é apenas uma espera sem ansiedade, um ar a mais e outro e mais um. Um futuro sem futuro, o mel e o fel como variantes poéticas do que há de mais primário nas relações, eu querendo abraçar mãe e filha e um retângulo me separando daquele vilarejo.

“Imagine a primavera chegando”. Uma frase em seu devido contexto e um dos momentos mais sublimes dentro da minha história cinéfila. A filha pede para a mãe esperar pelas flores como se o impacto do cinema que ali inexiste fosse um gatilho imagético de permanência. Algo como ficar exausto de qualquer êxito do passado e ao mesmo tempo entender que o tempo é uma distância imaginada para que a gente sinta alguma intimidade com a existência.

RATING: N/T

TRAILER

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REVIEW · SUNDANCE · MOSTRA SP

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