Por Eduardo Benesi
Entre a desconfiança e a intimidade mora um longa escandinavo com aquela legítima frieza entre os corpos. Sinto que COMPARTMENT NO.6 vem ganhando a crítica em festivais mundo afora porque preenche bem o tempo fílmico com um realismo latente, isso combinado com a atmosfera inóspita das paisagens árticas. Mas seu grande êxito é justamente a construção convincente do microcosmo entre o casal protagonista.
Pense na “trilogia do antes” de Richard Linklater, mas sem a mesma verborragia e junte a um casal de atores que dosam com verdade, seus silêncios e angústias para que a gente acredite em uma relação que começa sugerindo um perigo sexual e termina com uma intimidade improvável e de certa maneira previsível.
O que faz o romance merecer crédito ao nosso olhar é a sua falta de marcações românticas ou a não-performance dos enamorados. Esse tipo de filme nos serve de maneira lúcida contra o imperativo novelesco e caricato das relações de amor. Mas quando esses códigos existem hegemonicamente na vida comum, é importante quando a arte dá conta de descortinar a gradação do sentimento sem que isso mereça contornos ou derramamentos. E talvez, o melhor desse longa seja não nos aplicar lição de moral. Ao invés disso, nos coloca de plot-twist em uma grande armadilha: sem idealizar, mas nos embarcar nesse trem, junto da protagonista e no fim das contas no amor, uma mistura azeda entre o credo e as delícias.
RATING: N/T
TRAILER