Em Guerra


No apagar das luzes, no cessar das engrenagens, no silenciar dos motores e das esteiras e da produção, Vincent Lindon vai à guerra e – EM GUERRA – encarna um cinema de guerrilha donde os nervos estão exaustos, os lábios secos, a cabeça a arder porque as correias, os êmbolos e os volantes não rugirão mais, porque os calores e os carvões da fornalha repousarão frios e porque Stéphane Brizé (ou algum CEO) simplesmente o quis. Então, da insurgência do caos, ator e cineasta encenam seu panfleto ou senão a dimensão humana em face da dimensão econômica, a latente raiva que carcome, aos poucos, O VALOR DE UM HOMEM, quando este cai na armadilha de um plano empresarial maior. E nesse discurso, tal cinema é extremamente feroz, diria incendiário.

Na tela, o monólogo de Lindon se faz como um representante de sindicato que não tem a retórica política, mas simplesmente possui a necessidade de ser a voz da indignação e sofrimento. Seu desafio é manter o emprego de centenas, mesmo este subvalorizado em troca da estabilidade. Então, o que se vê é o calvário dos trabalhadores, as reuniões com os funcionários, os diretores de RH, os líderes empresariais e tantos advogados de defesa, isso em meio a greve, a luta, os piquetes, a mídia, e donde logo surge uma dramaturgia social descrevendo o homem e o grupo varridos em um conflito para salvar seu valor e respeitar a legislação em vigor.

E isso sem afogar o espectador sob toneladas de sutilezas legais e técnicas, apenas os pontos de vista de todos – trabalhadores, executivos e políticos -, as etapas do conflito, os debates judiciários, os mecanismos de um sistema sem caricatura, donde os trabalhadores – o protagonista incluso – pode até resistir, atrapalhando os planos, afetando a imagem da empresa por ações espetaculares, bloqueando o acesso à produção e os estoques, mas ao final pouco fazem, senão barulho.

(*) Crônica livremente inspirada do material cedido pela Diaphana Films, incluso entrevista com o diretor
RATING: 66/100

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REVIEW · CANNES

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