

O filme é um sprint frenético, 85 minutos de pura maratona: os atores sempre acelerados, andando, fugindo, entrando e saindo de cena em longos, longuissímos trackings em plano sequência, o texto ágil, o diálogo corrido, a quarta parede arruinada, todos sem folego enquanto a ilusão do cinema (do que é cinema, de como fazer cinema) vai a mil por hora. Quentin Dupieux – imperturbável, incansável – nos treina diante de tal verborragia, da vertigem das cenas, essa caminhada desinibida de personagens no limbo, atores soltando temas sensíveis como se fossem meras frases de efeito (ou será que são mesmo?). Ninguém sabe, ninguém consegue distinguir e tudo se mistura em um caos que ultrapassa o metacinema, onde nossa própria ilusão vai e volta em um tapa, um tiro, uma taça de vinho… Isso é real? Ou estamos apenas assistindo a uma encenação? E aí, de novo, a música entra como um toque inebriante, aludindo ao cinema, nos arrastando em um ciclo sem fim, um frenesi de imersão e emersão na tela, que pode esgotar os mais cansados, ou arrancar risos dos mais ousados, dependendo da disposição para tal exercício.
E diante do ritmo fulminante, o diretor sempre excêntrico e incomum, permanece parado, em silêncio absoluto, não por cansaço ou desinteresse, mas porque seu filme já diz tudo. Cada cena, cada palavra é como um passo calculado, onde a análise se torna clara, direta, concisa. O discurso do diretor e dos atores se reflete e se sobrepõem na própria obra, ali na estrada e a cada take, cada movimento, um comentário em tempo real. A projeção? Um filme-endorfina de imenso (e ao mesmo tempo minúsculo) esforço físico e mental, uma fusão de surrealismo e dadaísmo, a corrida entre o pastelão e o refinado, donde a leveza (a profundidade?) se encontram, ou se escancaram, uma torta na cara do público.
O que vem depois? O SEGUNDO ATO, um restaurante-barraca perdido em algum canto remoto da França, o local onde um filme está sendo filmado com equipe reduzida e poucos atores. O enredo? Vai se desvanecendo, desaparece como uma corrida que não tem mais linha de chegada. O filme dentro do filme, a câmera que é mais figurante que protagonista, a linha entre o que é roteiro e o que não é, um andar que nunca termina. O que sabemos é que a diversão está ali, orquestrada por um Dupieux que faz dessa corrida de cenas e diálogos (en)caminhados, um exercício de desconstrução. E esse conceito, tirado de seu filme anterior – DAAAAAALÍ! – agora se expande, se acelera, e nos lança em uma série de provocações: homofobia, sexismo, patriarcalismo, racismo… temas difíceis, politicamente incorretos, mas que na verdade não são, porque estão todos no script. No meio desse caos, o que fazemos? Simplesmente paramos, ofuscados pelo ritmo imbatível de tamanha genialidade.
RATING: 73/100

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