The Good Sister


No coração de THE GOOD SISTER, a relação entre irmãos é marcada pela união e separação. O que os une é a origem compartilhada, os dias de infância que (ainda) ressoam no fundo de suas almas. Mas o que os separa é o peso do tempo, as mudanças que surgem à medida que crescem e se afastam. Ali, eles buscam suas próprias identidades, mas sempre existe algo, talvez um fio tênue, mas inquebrantável, que os conecta, ultrapassando distâncias, desavenças e até mesmo o silêncio. No fundo, são os restos de uma história comum, o lugar onde, em algum momento, suas almas se entrelaçaram, e onde, talvez, ainda se reconheçam, mesmo que de longe. Irmão e irmã, presos em um ciclo de aproximação e afastamento, onde o amor se refaz, se desfaz e se refaz mais uma vez.

Sarah Miro Fischer, então, filma essa história de uma maneira única, capturando um conflito que é, ao mesmo tempo, suspense e introspecção. O que seria o monstro se não o próprio espelho? A resposta deixa a monstruosidade velada, desafiando-nos a ver tal humanidade na escuridão, gotejando pingo a pingo pela noite. A cada cena, dois corações batem ao mesmo tempo: o da irmã que, aos poucos, vai se distanciando e o do irmão, que ainda carrega a marca da relação. A câmera e o som são instrumentos que sustentam essa perspectiva subjetiva, por meio da qual experimentamos a jornada de Rose: a linguagem visual segue a intuição dela, fluida e leve no início, mas gradualmente se tornando mais restrita, até que a imobilidade toma conta. Os personagens passam a ser enquadrados por portas e através de janelas, assim como Rose se sente cada vez mais confinada no contato com o irmão, ao ponto de sufocar, porque o espaço para os desejos individuais começa a desaparecer. Em determinado momento, parece até que as paredes se fecham ao redor e ela se vê presa não apenas no ambiente, mas nas expectativas que o irmão lhe impõe. Apoiar o irmão, para ela, significaria a negação de sua própria identidade. Ela se perderia, a menos que decidisse viver sua verdade. O som sutilmente nos guia por essa jornada emocional, o faz de forma profunda e complexa – e, por vezes, destrutiva -, esse é o coração de Rose.

É fascinante como o filme muda de perspectiva, repentinamente, para nos mostrar a jovem mulher que enfrenta um dilema: sim, ela precisa lidar com os sentimentos que surgem dessa relação fraternal, sua própria identidade como mulher e, mais ainda, com a percepção da sexualidade. E constantemente tais relações se transformam, se quebram e precisam ser reinventadas, e de novo e de novo, um passo crucial para questionar as consequências de um ato. Através dos olhos de Rose, o roteiro explora o impacto de um crime sobre uma família, ou, mais especificamente, sobre a relação entre irmãos.

A protagonista, interpretada por Marie Bloching, não é exatamente uma mulher forte. Ela se encontra perdida, ainda à procura de seu caminho. Conhecemos sua fragilidade, mas isso não a torna fraca. Ela tem a capacidade de buscar o irmão, de descansar a cabeça em seu ombro, mas também se perde nas outras pessoas. A linha entre dependência e apoio é tênue, e a relação entre eles se configura como codependente. Ela sempre foi a irmã mais nova, protegida e amparada, mas agora precisa questionar esse vínculo, que parecia inabalável. O conflito interno de Rose é uma jornada multifacetada, uma que não é dominada pela certeza, mas pela dúvida. Ela não sabe exatamente o que quer ou como alcançá-la, mas aprende a ouvir sua própria voz, mesmo que isso signifique se afastar do irmão. Ela talvez o perca, sim, mas no processo de se perder, ela se encontra. O final (o futuro?) permanece em aberto, como uma sutil provocação à reflexão.

RATING: 73/100

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REVIEW · BERLIM

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