



Paolo Sorrentino declama cinema à sua musa, PARTHENOPE, e o faz inundado de luz dourada, como se filmasse a plenitude desse ser, uma divindade que emerge em silêncio e elegância. Cada movimento dessa figura é um rito sagrado, capturado em lentos, lentíssimos planos quase imortais, onde a beleza se torna uma oração sem palavras. Celeste Dalla Porta, por sua vez, é o reflexo do mediterrâneo, dessa JUVENTUDE que evoca anseio nos homens, tal qual um canto de sereia. A tela se estende diante de nós como um altar, e A GRANDE BELEZA de sua presença se impõe, envolta em música celestial, em dança de luzes e sombras que nos embriaga e nos arrasta para uma realidade que, ao mesmo tempo, é nossa e estranha. Nápoles, como a personagem-título, é o palco onde a beleza se transforma em êxtase e decadência. Um lugar onde o tempo é mestre cruel, mas também um amante que nos toca com a suavidade de uma promessa quebrada. Aqui, as belezas se sobrepõem, dionisíacas como vinho envelhecido, até que, por fim, nos empapa.
Sim, tal cinema, como a vida, é uma celebração do sagrado, daquilo que se perde, mas também que permanece. Parthenope, aos setenta e três anos, oferece aos seus espectadores o presente de sua história, feita de amores não ditos, de verões esquecidos, de encontros fugazes que se tornaram eternos. Em seus olhos, há o reflexo de um oceano imortal, de uma juventude que, agora, se dissolve nas águas do tempo. Há ali a lembrança de um amor puro, uma saudade interminável de um passado irrecuperável, e ao mesmo tempo, uma força vibrante, uma energia indomável que se recusa a desaparecer. Porque Parthenope é como Nápoles: ela é liberdade, ela é caos, ela é tudo aquilo que o mundo não ousa compreender. Seu corpo e sua alma se entrelaçam com a cidade que a criou, uma cidade onde tudo é possível, basta o desejo profundo e incontrolável. Nápoles não julga, ela abraça. Ela liberta. Ela ensina que, muitas vezes, a solidão é a única companhia capaz de suportar a imensidão da liberdade.
O roteiro – a própria vida da protagonista – é uma tapeçaria sem fim, onde cada fio é puxado por um destino imprevisível, mas que, de alguma forma, nos leva a um entendimento que nunca será completo. As perguntas que nos fazem são sempre as mesmas, mas as respostas, sempre fugidias, nos revelam o mistério da nossa existência. “Você ama demais ou de menos?” pergunta um anjo disfarçado de demônio. E a resposta, como o próprio filme, se dissolve no ar. Porque todas as respostas são inacabadas, todas as verdades são fugazes. E no fim, o que fica é o enigma. O enigma desse mito, o enigma da vida.
Ao final, a juventude se vai, se perde na imensidão do tempo. A beleza se esvai como a espuma do mar que não deixa vestígios, como o perfume das flores que nunca se eternizam. O grande engano, o grande despertar, agora se desfaz na névoa do esquecimento. O filme vai aos poucos se esquecendo, se torna uma memória distante, uma ilusão que já não consegue enganar. Sim, é belo, belíssimo, mas não conseguimos compreender inteiramente.
RATING: 67/100

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