Um Completo Desconhecido


Deveria ser UM COMPLETO DESCONHECIDO, mas não… surpreendentemente é Timothée Chalamet tocando gaita e violão, ele cantando no mesmo timbre de Bob Dylan enquanto James Mangold, sempre interessado na paixão incontrolável de seus personagens, como outrora Ford Ferrari ou Johnny Cash, segue na fórmula e na busca de um sonho (americano?), não um filme sobre artistas – e não apenas artistas -, mas a verdadeira alma e a arte, a epifania que provoca e o rastro de multidões que aglomera, ela própria criada pela multidão dentro dele(s). Então sim, há música, mas aqui também um hino, a celebração, a história de um jovem de 19 anos que vem à Nova York carregando tão somente a guitarra e o gênio.

Baseado no livro “Dylan Goes Electric!”, de Dennis McDougal, o roteiro segue o momento histórico e controverso do protagonista na transição do folk acústico para o rock elétrico, mais especificamente em 1965, durante a lenda do Newport Folk Festival. Antes, o cineasta recria um momento crucial na vida de Bob Dylan, explorando a ascensão de um jovem vagabundo ao ícone do folk, o faz como um conto de fadas, um filme donde o protagonista se apresenta com apenas cinco dólares, um violão e um caderninho cheio de músicas. Não era Bob Dylan, mas Bob Zimmerman na época e é assim até o encontro com seu ídolo para cantar algo que escreveu. Esse encontro casual com Pete Seeger, ou essa audição, diante de um ícone, se torna um ponto de virada para o roteiro. E dessa faísca, em meio à turbulência dos anos 60, a Guerra Fria, a Crise dos Mísseis Cubanos, o assassinato de JFK e o Movimento pelos Direitos Civis, o protagonista faz história, sua música, esse filme, e com ele, Chalamet em grande performance ao vivo, na voz e presença de palco, a mesma que o próprio Dylan conquistou seus fãs por décadas na estrada.

Diante da atmosfera efervescente, a câmera recria a boemia em um filme texturizado, o grão arenoso e sujo como gesso descascado nas paredes em decomposição e ferrugem e fuligem e pontas de cigarro e lixo. Esse é o cenário dos clubes, galerias e cafés, todos lotados de poetas, pintores e músicos se alimentando uns dos outros, e cuja fotografia Kodachrome dos anos 60 nos inebria ainda mais pela fumaça e neon, a silhueta em meio ao brilho das luzes da cidade enquanto a música, essa rouquidão áspera e um tanto nasal, transmite a mesma melancolia, a emoção e, sim, uma explosão.

RATING: 76/100

TRAILER

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REVIEW · BERLIM

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