Na semana donde, em tese, seria o anuncio da Seleção Oficial do Festival de Cannes 2020 e onde, na verdade, foi anunciado o cancelamento de várias Sessões Paralelas tais como a Quinzena dos Realizadores, a Semana da Crítica e o Panorama ACID, todos em função das medidas restritivas na França, devido ao surto de COVID-19, Thierry Frémaux, o delegado Geral do Festival, segue adiante – e esperançoso. Em entrevista exclusiva para Étienne Sorin, do Le Figaro, ele reitera que o Festival vai acontecer, um dia e de alguma forma, dado a importância desse evento para a indústria e o consequente reinício econômico de todo o setor.

Sim, uma alternativa sugerida seria levar todo o evento ao Streaming, mas isso não vai acontecer. E embora o Marché du Film o fará, sendo confirmado um mercado virtual entre os dias 22 e 28 de junho, Frémaux segue obstinado em promover o festival fisicamente, porque “Cannes é uma reunião, um julgamento coletivo, uma influência”, ou seja, a proposta se encaminha para, talvez, um evento de formato reduzido, sem certos países (se as fronteiras fora da Europa ainda não forem reabertas) e com um número limitado de espectadores mascarados em cada sala. O mais provável será um “Panorama de Cannes” em outro festival, uma proposta já vem sendo elaborada com outros eventos, sabe-se que San Sebastian, Locarno e Veneza já fizeram um convite. É uma hipótese aceitável. “Cannes defende filmes exibidos nos cinemas. E as salas estão agora em seu pior momento. Devemos ajudá-los e isso levará tempo. Devemos trazer novos formatos, ideias e eventos para eles. Lembro que as plataformas (de streaming) estão tendo sucesso com séries e filmes – do cinema”, pontua o delegado.

E se tudo o mais falhar, haverá, contudo, uma “Seleção Oficial do Festival de Cannes”, filmes selecionados e lançados nos cinemas, mesmo que não haja uma edição física do festival. Digamos que um selo “Cannes2020” em vez de um selo oficial da Seleção, porque este último implicaria que o festival estava indo adiante “normalmente”. E incluso as seções paralelas também. Então, um rótulo “gourmet” que permitirá a promoção dos filmes com toda a pompa e circunstância que uma Premiere em Cannes faria.

Um Mercado Online

“Ninguém sabe o que a segunda metade do ano pode trazer e se será possível organizar grandes eventos cinematográficos novamente em 2020, incluindo o Festival de Cannes”, disse Thierry Frémaux, delegado geral do festival. “Cannes decidiu, portanto, adaptar seu formato para este ano peculiar. Aqui está uma primeira iniciativa: um Marché du Film Online, lançado por Jérôme Paillard, diretor executivo da Marché. Esse novo tipo de mercado é organizado em consulta e com a participação de muitos profissionais de todo o mundo.”

Portanto, havemos um mercado virtual, por hora, criado para apoiar a indústria cinematográfica internacional e ajudar os profissionais. O evento será realizado entre 22 e 26 de junho. E será feito todo online com cabines, pavilhões e exibições virtuais, incluso também as conferências.

Em anúncio, Jérôme Paillard disse: “Nesta situação desafiadora, a indústria cinematográfica está expressando a necessidade de um encontro de primavera antes do verão. Uma pesquisa que realizamos na semana passada com distribuidores em todo o mundo revela que 80% deles estão interessados em um mercado on-line e 66% têm capacidade para fazer aquisições (principalmente de filmes completos, mas também de pós-produção e escrita). Não substituiremos a experiência de Cannes pelo Marché du Film Online, mas estamos recriando parte de sua essência online, oferecendo aos profissionais uma plataforma eficiente e avançada para exibir filmes, comprá-los, financiar projetos e encontrar parceiros. Também estamos experimentando um novo modelo de mercado que permitirá a participação de profissionais que não tinham meios ou tempo para vir a Cannes”.

O Selo Cannes

Com uma seleção oficial completa de filmes prontos na ponta dos dedos, Thierry Frémaux busca alternativas para o contexto atual. A ideia de exibições on-line o martela, mas o negócio vai muito além das exibições em si. Cannes tem os filmes, já os está segurando, enquanto o tempo corre e Veneza se aproxima também, brigando pelos mesmos títulos, embora ninguém tenha certeza de nada nesses tempos. Estar em uma ilha – o Lido – pode ser algo que funciona a favor de Veneza em setembro; a ideia de um festival europeu, enquanto as Américas olham para Toronto, também é algo que vale lembrar. No geral, a ideia se encaminha para um “selo de distribuição”. Um rótulo gourmetizado de qualidade. Os filmes acabarão encontrando um lar, uma estreia, outro festival talvez, é uma questão de logística, mas terão o apadrinhamento de Cannes. Então, eis as nossas apostas, conforme sondamos recentemente no mercado de filmes de Berlim, a EFM 2020:

Estrelando Tilda Swinton, Jeanne Balibar, Daniel Gimenez Cacho, Juan Pablo Urrego e Elkin Diaz, com produção ocorrendo na Colômbia, marca o primeiro filme do cineasta de TIO BOONMEE QUE PODE RECORDAR SUAS VIDAS PASSADAS (Palma de Ouro, 2010) fora da Tailândia. No filme, Swinton interpreta um agricultora de orquídeas visitando sua irmã doente em Bogotá. Enquanto isso, ela faz amizade com uma arqueóloga francesa (Balibar) e um jovem músico (Diaz). A cada noite, ela é incomodada por estranhos sons cada vez mais altos que a impedem de dormir.

Bergman Island

Mia Hansen-Løve

Com produção do brasileiro Rodrigo Teixeira e Mia Wasikowska, Tim Roth e Vicky Krieps no elenco, a cineasta dO QUE ESTÁ POR VIR se retira para a ilha (e a casa) donde viveu o celebre diretor Ingmar Bergman para, ali, contar a história de um casal de cineastas em férias de verão e inspiração. À medida que a temporada e seus roteiros avançam, as linhas entre realidade e a ficção começam a se confundir com o cenário selvagem da ilha. Por se tratar de uma co-produção brasileira, o filme em tese tem distribuição garantida no Brasil, provevelmente pela Vitrine Filmes, donde normalmente estreiam os filmes da RT Features. Distribuição Internacional da Kinology.

True Mothers

Naomi Kawase

Velha habitué de Cannes, Naomi Kawase retornaria agora com a adaptação homônima do best-seller de Mizuki Tsujimura, sobre a história de um jovem casal que adota uma criança e, seis anos depois, são contactados pela mãe biológica. Um drama familiar e humano, portanto, que encenará um elenco exclusivamente japonês. O filme será distribuído no Brasil pela Califórnia Filmes, ainda sem data. Distribuição Internacional da Playtime.

ETÉ 85

François Ozon

Uma história de amor que atinge a maioridade, ETÉ 85 segue Alexis, um jovem de 16 anos, que conhece David, de 18 anos, na costa da Normandia e sente que acabou de conhecer o amigo dos seus sonhos. Além de ser dirigido por Ozon, um dos principais autores franceses, cujo último filme, GRAÇAS A DEUS, recebeu o Urso de Prata em Berlim, o projeto empolga também pela trilha sonora repleta de músicas de The Cure, Rod Stewart, RAF, Lloyd Cole e The Commotions and Bananarama, além de Valeria Bruni Tedeschi e Melvil Poupaud no elenco. Um título cotadíssimo para a Seleção da Berlinale desse ano e que provavelmente foi guardado para uma Premiere francesa. O filme será distribuído no Brasil pela Califórnia Filmes, ainda sem data. Distribuição Internacional da Playtime.

THE STORY OF MY WIFE

Ildikó Enyedi

Urso de Ouro em 2017 por CORPO E ALMA, a cineasta húngara Ildikó Enyedi adapta o romance homônimo de Milan Fust, de 1942. A história, uma variação da lenda do Flying Dutchman, é ambientada na década de 20. Nele, o capitão do mar Jakob Storr aposta num café que ele se casará com a primeira mulher que entrar no local. No elenco, Léa Seydoux, Louis Garrel, Gijs Naber e Jasmine Trinca. Distribuição Internacional da Films Boutique.

TRE PIANI

Nanni Moretti

Palma de Ouro em 2001, pelO QUARTO DO FILHO, Nanni Moretti retornaria à Cannes com uma dramédia baseada num romance do israelita Eshkol Nevo sobre um grupo de pessoas, de índoles distintas, confinadas num mesmo condomínio de Roma. Três famílias que vivem em três andares contadas em três capítulos diferentes com Riccardo Scamarcio, Alba Rohrwacher, Margherita Buy e o próprio Moretti no elenco. Distribuição Internacional da Le Pacte.

WHERE IS ANNE FRANK?

Ari Folman

Depois de VALSA COM BASHIR e O CONGRESSO FUTURISTA, o animador israelense retornaria à Cannes com seu novo projeto, uma nova visão do diário de Anne Frank, mas dessa vez do ponto de vista de Kitty, a amiga imaginária de Anne. Um filme que mescla animação tradicional 2D com técnicas stop-motion, feito em parceria com a mesma equipe de ILHA DOS CACHORROS e O FANTÁSTICO SR. RAPOSO. O filme está concluído desde o ano passado e já foi apresentado em screening teste recentemente em Bordeaux.

THE FRENCH DISPATCH

Wes Anderson

Seria o principal evento de Cannes, talvez a Abertura, um filme dos sonhos estrelado por Tilda Swinton, Frances McDormand, Jeffrey Wright, Benicio del Toro, Owen Wilson, Léa Seydoux e Timothée Chalamet. E ainda cameos de Kate Winslet, Christoph Waltz, Saoirse Ronan, Jason Schwartzman e Willem Dafoe. Uma carta de amor aos jornalistas situada em um posto avançado de um jornal americano em uma cidade fictícia da França do século 20. Um dos grandes favoritos ao Oscar 2021, inclusive. Distribuição Internacional da Walt Disney Studios, incluso no Brasil.

BENEDETTA

Paul Verhoeven

Um filme histórico, misterioso e altamente lésbico, sem dúvida um dos projetos mais aguardados do ano, donde o cineasta holandes vai ao século XV para emoldurar a jovem Benedetta Carlini, ainda quando ela se juntava ao convento de Pescia, na Toscana. No elenco, Virginie Efira, Daphné Patakia, Charlotte Rampling e Lambert Wilson. Distribuição Internacional da SBS e Pathé Films.

AHED´S KNEE

Nadav Lapid

Depois do Urso de Ouro, ano passado em Berlim com SYNONYMES, o cineasta israelense tentaria nesse ano a Palma, com um projeto extremamente autoral – como sempre -, o conto de um cineasta israelense que se joga no meio de duas batalhas fadadas ao fracasso: uma contra a morte da liberdade, a outra contra a morte de uma mãe. Distribuição Internacional da Kinology.

Outros Filmes Submetidos

INVASÃO ZUMBI 2: PENÍNSULA . Yeon Sang-Ho
THE LAST NIGHT IN SOHO . Edgar Wright
TENET . Christopher Nolan
A CHIARA . Jonas Carpignano
HOME . Franka Potente
THE INNOCENTS . Eskil Vogt
PETITE FLEUR . Santiago Mitre
LO QUE ALGUNOS SOÑARON . Michel Franco
ON A HALF CLEAR MORNING . Bruno Dumont
LE QUAI DE OUISTREHAM . Emmanuel Carrère
MADAME CLAUDE . Sylvie Verheyde
AKELARRE . Pablo Agüero
DES HOMMES . Lucas Belvaux
DRUK . Thomas Vinterberg
THE HILL WHERE THE LIONESSES ROAR . Luàna Bajrami
MONA LISA AND THE BLOOD MOON . Ana Lily Amirpour
SOUL . Pete Docter & Kemp Powers
TOP GUN: MAVERICK . Joseph Kosinski
DNA . Maïwenn
MON LEGIONNAIRE . Rachel Lang
DEAD & BEAUTIFUL . David Verbeek
LOVE AFTER LOVE . Ann Hui
MANDIBULES . Quentin Dupieux
WIFE OF A SPY . Kiyoshi Kurosawa
LIBERTAD . Clara Roquet
ARTHUR RAMBO . Laurent Cantet
UNE HISTOIRE D’AMOUR ET DE DÉSIR . Leyla Bouzid
THE GIRL AND THE SPIDER . Ramon Zürcher
SELENE 66 QUESTIONS . Jacqueline Lentzou
LA PIÈCE RAPPORTÉE . Antonin Peretjatko
SWEAT . Magnus von Horn
CIGARE AU MIEL . Kamir Aïnouz
MISS MARX . Susanna Nicchiarelli
AMIRA . Mohamed Diab
THE MAN WHO SOLD HIS SKIN . Kaouther Ben Hania
HERE BEFORE . Stacey Gregg
KNOCKING ON HEAVEN’S DOOR . Im Sang-soo
CASABLANCA BEATS . Nabil Ayouch
NOTTURNO . Gianfranco Rosi
NOMADLAND . Chloé Zhao
UN DRAGO A FORMA DI NUVOLA . Sergio Castellitto
MY DONKEY, MY LOVER AND I . Caroline Vignal
SOEURS . Yamina Benguigui
WISE BLOOD . Bouli Lanners & Tim Mielants
MEMORY BOX . Joana Hadjithomas & Khalil Joreige
WICKED GAMES . Ulrich Seidl
LA CAJA . Lorenzo Vigas
UNTITLED PROJECT . Jean-Luc Godard
LA DARONNE . Jean-Paul Salomé
LUZ . Flora Lau
THE RIVER . Ghassan Salhab
SUMMERLAND . Jessica Swale
SCHOOL TOWN . Liu Jian
AU CRÉPUSCULE . Sharunas Bartas
UN PETIT-FILS . Xavier Beauvois
UNTITLED PROJECT . Adam Leon
TIME . Garrett Bradley
KINGMAKER . Byun Sung-hyun
DELIVER US FROM EVIL . Hong Won-chan
A BOOK OF FISH . Lee Joon-ik
MOGADISHU . Ryoo Seung-wan
WHERE IS PINKI? . Prithvi Konanur
TASTE . Le Bao
ALMOST IN LOVE . Leonardo Brzezicki
IN THE COUNTRY OF LAST THINGS . Alejandro Chomski
ANIMALS . Nabil Ben Yadir
TENGO MIEDO TORERO . Rodrigo Sepulveda
AMPARO . Simón Mesa Soto
DESASOSIEGO . Paz Fábrega
SHORTA . Fredrik Louis Hviid & Anders Ølholm
SOUAD . Ayten Amin
THE GIRLS . Pilar Palomero
THE LAST ONES . Veiko Ounpuu
ANY DAY NOW . Hamy Ramezan
ONODA – 10,000 NIGHTS IN THE JUNGLE . Arthur Harari
ATOMIC SUMMER . Gaël Lépingle
THE THIRD WAR . Giovanni Aloï
A BRIGHTER TOMORROW . Yassine Qnia
IBRAHIM . Samir Guesmi
THE SWARM . Just Philipott
TO SAIL CLOSE TO THE WIND . Gregoris Rentis
GOODNIGHT, SOLDIER . Hiner Saleem
HERE WE ARE . Nir Bergman
SHAKE YOUR CARES AWAY . Tom Shoval
THE TIES . Daniele Luchetti
THE MACALUSO SISTERS . Emma Dante
EUROPA . Haider Rashid
THE ALLEYS . Bassel Ghandour
THE MAIDEN’S POND . Bassem Breche
ZANKA CONTACT . Ismaël el Iraki
COSAS IMPOSIBLES . Ernesto Contreras
NIGHT OF FIRE . Tatiana Huezo
EL OUTRO TOM . Rodrigo Plá
GO YOUTH . Carlos Armella
THE WORLD TO COME . Mona Fastvold
APOLLO . Arab & Tarzan Nasser
THE TRANSLATOR . Rana Kazkaz & Anas Khalaf
EMIL . Andrei Gruzsniczki
UNCLENCHING THE FIST . Kira Kovalenko
GOLDEN BUTTERFLIES . Abdelhamid Bouchnak
ALI & AVA . Clio Barnard
CENSOR . Prano Bailey-Bond
THE POWER . Corinna Faith
AFTER LOVE . Aleem Khan
THE WOMAN IN THE WIDOW . Joe Wright
COW . Andrea Arnold

(*) Com as reportagens da Le Figaro, Screen Daily e Variety, além do material cedido pela Assessoria de Imprensa de Cannes