Verão de 85

No improviso, VERÃO DE 85 trata de vida e morte, cento e dezessete bits, seis reportagens e dois recortes de jornal, com algumas piadas, um quebra-cabeça ou três, algumas notas de rodapé e um fiasco ocasional. É meio louco, dramático, um romance de verão ao som de “The Cure” que remonta ao livro de Aidan Chambers, “Dance on my Grave”, isso lá em 1985, que François Ozon leu, quis fazer e não o fez, embora os temas cultuem toda a sua filmografia desde então, o cross-dressing em UMA NOVA AMIGA, a cena do necrotério em SOB A AREIA, o relacionamento com um professor em DENTRO DE CASA, o cemitério em FRANTZ… ou seja, um texto que alimentou sua imaginação por gerações, mas feito agora, adaptado, recriado, rebatizado e ensolarado ao nossos tempos, bem blasé e francês, céu azul, cabelos ao vento, um toque de suspense e voilá: um déjà vu nostálgico tão caro ao diretor.

Um cinema de descoberta, acampamento e sexualidade aflorada. Um filme de meninos que se amam, amor gay, livre, universal. Uma saga adolescente de paixão e devoção, como tantas outras, CURTINDO A VIDA ADOIDADO diria John Hughes, ME CHAME PELO SEU NOME contaria Luca Guadagnino, mas aqui dedilhando no mistério, em pistas falsas, indo e vindo para desafiar seu público. A cena do walkman, uma homenagem à LA BOUM – NO TEMPO DOS NAMORADOS é um belo prenuncio (e talvez o coração do filme): ali, os protagonistas não dançam a mesma música, um está inquieto e rindo enquanto o outro está sonhando acordado. Neste ponto já se percebe uma desconexão como se fosse um jogo entre eles, não sofrimento, apenas um estalo (ou perigo?) para reinterpretar o que está porvir.

Um filme calcado nos anos 80, feito em 16mm e com todas as nuances da época. O flerte claramente é o cinema americano (já citei John Hughes?), uma estética descolada, despreocupada, muito sensual. Há uma sutileza na cor que eletriza a película, já fotogênica por suas longas praias de seixos, falésias e complexos residenciais da região de Le Tréport. É ali que Alexis naufraga e se apaixona por David. É ali que Alexis vai dançar sobre seu túmulo. Na tela, são os jovens Félix Lefebvre e Benjamin Voisin e o resto é a química e obsessão, dois sóis pelo qual esse VERÃO DE 85 é tão irresistível, o sexo é tão fogoso, as caricias são tão sensuais… e tudo alheio a mãe, a inocente Valeria Bruni-Tedeschi, oh coitada!

RATING: 71/100

TRAILER

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FILMES · CANNES · TIFF · SAN SEBASTIAN · FILMES LGBT

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