As estações, o porvir, os dias que virão… E assim, Mia Hansen Love filma Isabelle Huppert, como outrora Eric Rohmer filmou Anne Teyssèdre. Dois CONTOs DE PRIMAVERA, de cinema, de magia, senão a possibilidade de capturar a existência, a alma dessa atriz, ali escrita na tela, tão sensível, sensual, simplesmente efêmera, em busca de algo, um vislumbre, impalpável, infinito, não há palavras, significados, talvez a plenitude.
E nessa sinfonia, aos olhos de uma eterna oportunidade entre liberdade e destino, vemos Huppert, a mulher, a atriz, a personagem sem qualquer ideia do que fazer, do que fará, desse amanhã alvedrio, o abismo, sua atmosfera. E sob a luz, à filosofia, também vemos uma professora além da separação, do seu amor ao trabalho, às ideias, seu ensino e transmissão. E com ela, Mia nos envolve nesse mundo e sua poética, tantos livros, lugares, personagens, enfim a espinha dorsal dessa existência, as memorias embaladas pelas obras, a leitura desenhada pelo texto, seus significados nas entrelinhas. Esse, talvez, seja o grande ponto dessa historia, senão o dialogo entre a protagonista e seu trabalho, entre a vida e o cinema.
Também um filme sobre o recomeço: Dos medos e solidões que assolam, às vezes com brutalidade, a separação de um casal e daí a (sombria) posteridade, os receios de uma nova vida sem alguém com quem partilhar a casa, o travesseiro, o invisível. E nesse instante, de alguma forma, dali se obter a força e a coragem para prosseguir, ocupar esses espaços, simplesmente existir.
E assim voltamos à Huppert, à tormenta, à essência, afinal ao ofício que sintetiza tudo, seja numa canção, ou na emoção, apenas no olhar, não importa, porque tudo se justapõe diante dessa atriz, tantos conflitos orbitando pela personagem para, por fim, nos restar apenas a sensação de que tudo o que se pode fazer é esperar, abraçar a força que nos varre, aceitar o tempo e essa nova vida que chega, sim, OS DIAS QUE VIRÃO.
(*) Crônica livremente inspirada do material cedido pela Les Films du Losange, incluso a entrevista de Mia Hansen-LØve
RATING: 80/100
TRAILER