Eva


Isabelle Huppert é EVA. Outrora foi Jeanne Moreau. Uma mulher linda de ver e letal de se amar, ora ousada, ora tímida, sempre envolta de enigmas, de feitiços, de pecados… A pedido da serpente, foi a queda de Adão. No livro de James Hadley Chase é o declínio do protagonista, no antigo filme de Joseph Losey foi o delírio de Stanley Baker. Agora, se torna a ruina de Gaspard Ulliel nessa refilmagem de Benoît Jacquot. E por todas as narrativas, ela permanece fria e indiferente. Eva teve uma infância difícil, dorme com todos os tipos de homens e os odeia mortalmente. É obsessão e culpa e paranoia. A pequena trapaça da mente humana que deseja, sempre quer, mas nunca poderá ter. E eis o drama. A história de uma fraude em busca desse amor não correspondido, a perigosa compulsão pela “femme fatale” e seus eternos joguinhos de angústia, desespero e impasse que aperta os protagonistas. Os sufoca. Os engasga. Os cegam completamente.

E quem realmente é Eva? Ela é uma pessoa real ou uma fantasia? Seria uma projeção? Um mito inacessível? Nessa história, ela tem pelo menos dois rostos – o que usa na sua vida doméstica, como a esposa de seu marido, e outro mais impenetrável que coloca em seu trabalho como prostituta. O principal elemento da camuflagem é a peruca negra. Sua natureza é múltipla – macia, dura, gay, triste… na tela, ela engloba todas as cores emocionais, como se estivesse permeada, quase sem o seu conhecimento, por esses vários estados. Difícil defini-la. Melhor não o fazer porque o personagem é tão intrigante, opaco e venenoso que é impossível concebê-lo sem pensar em outra atriz. E, sim, Eva é Isabelle Huppert.

Um filme de dois impostores que contam histórias de vida fantasiadas um para o outro. O cineasta filma os duplos, o caráter inconsciente e dividido entre o homem e a mulher. Pela projeção, o desconhecido, as maquinações de um thriller erótico que leva seu herói à ruína, o romance de uma identidade roubada, o casino onde o destino de cada um pode ser apostado como uma roleta, as estradas sinuosas que tornam o espaço mental serpentino, obscurecendo os caminhos, cada futuro em uma potencial tragédia moderna. Portanto, um puzzle ou um daqueles filmes-abismos para cair de cabeça, no pesadelo, no tiroteio, senão o inferno.

(*) Crônica livremente inspirada do material cedido pela EuropaCorp, incluso notas de produção e entrevista com o diretor
RATING: 55/100

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REVIEW · BERLIM

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