Ou não… Porque apesar das expectativas (ou ambições?) do produtor Gaston Pavlovich, isso dito em cada evento ou tuite do qual participou, o filme de Martin Scorsese ainda está em processo de pós-produção e bem longe de Cannes. Ou está vetado pela Paramount Pictures que prefere lançá-lo nos acréscimos de 2016, em tempo apenas de vigorar na Temporada Ouro de Hollywood. Ninguém sabe. Poderia haver outro “silêncio”, mas Almodóvar preferiu JULIETA, sua terra natal e o mês de Abril para lançar seu novo filme, o que não impede uma Premiere Internacional em Cannes, mesmo em Competição (ano passado isso também não impediu os italianos de competir), mas nos remete diretamente aOS AMANTES PASSAGEIROS, que teve a mesma especulação e, de fato, não foi à Cannes. Na verdade, Almodóvar é avesso às competições. Sempre foi (ou se cansou de perder). E mesmo com A PELE QUE HABITO que competiu em Cannes 2011, tal feito se deve mais à articulação do aposentado Gilles Jacob do que as expectativas do cineasta espanhol e seu “El Deseo”. O novo curador, Pierre Lescure, seria capaz de fazer o mesmo? Ao menos um “silêncio” em Cannes? E com toda essa historia de “Panama Papers”? Veremos…
E nessa calmaria, donde Cannes parece tão calada, aos poucos ouvimos um Festival tomando sua forma, um cartaz aqui, um anúncio acolá, enquanto os bastidores borbulham de negociatas entre diretores e seus egos, distribuidoras e seus negócios, competição ou não, copiões e esperança. E desse frenesi silencioso, dentre tantos e-mails, telefonemas e cochichos, a imprensa naturalmente especula. E daí já se sabe muito: Jodie Foster, por exemplo, é uma das primeiras a quebrar a quietação com seu JOGO DO DINHEIRO confirmado para o dia 12, fora de competição.
Aliás, este deveria ser o Filme de Abertura de Cannes 2016. E não foi porque a Warner Bros declinou da ideia, como fez em 2015 com MAD MAX. E o fez por medo. O receio de expor seu produto numa vitrine tão grandiosa e assim, logo de cara, diante de todos os holofotes e da crítica do mundo inteiro. Uma pressão que, outrora, marcou fundo a carreira internacional de GRACE DE MONACO e ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, a mesma sombra que pesa sobre MARGUERITE ET JULIE, SEA OF TREES e MAIS FORTE QUE BOMBAS, um clamor que quebra o silêncio (e os negócios). Então melhor ficar com algo mais garantido, talvez CAFÉ SOCIETY do velho e bom Woody Allen de trocentos filmes, 14 deles em Premiere em Cannes. Não ficamos surpresos com o anuncio.
Sabemos também que O BOM GIGANTE AMIGO (Steven Spielberg) e DOIS CARAS LEGAIS (Shane Black) estão confirmados em Sessão Especial, assim como LOVING (Jeff Nichols) e THE LAST FACE (Sean Penn) estão em disputa pela Palma. O resto é pura especulação nessa rede de dissimulações. Um jogo que nosso site compila minuciosamente dentre tantas listas, noticias e datas. E ao que parece, por todas as predições, Jean-Pierre & Luc Dardenne retornam às palmas. Os irmãos que, ano sim, ano não, DOIS DIAS, UMA NOITE, sempre quebram o SILÊNCIO (DE LORNA?), senão pela temática social, ao menos pela ovação, porque afinal o clamor da Palma (de Ouro) de ROSETTA (1999) e A CRIANÇA (2005) não os acomodaram, pelo contrário.
ALÉM DAS MONTANHAS, lá da Romênia, Cristian Mungiu tem quase 92% de chances de tentar outra Palma, não seria 4 MESES, 3 SEMANAS E DOIS DIAS depois da primeira, mas quase 9 anos depois e agora com RETRATOS DE FAMÍLIA, certamente outro episodio realista desse país, cuja AURORA, Cristi Puiu filmou magnanimamente, primeiro com A MORTE DO SR. LAZARESCU e agora, com 85% de chance de figurar em Competição, com SIERRA NEVADA.
Do Canadá, certamente não haverá silêncio. SÓ O FIM DO MUNDO, Xavier Dolan e sua conhecida estridência: O mesmo barulho de MOMMY, o estrepito de TOM NA FAZENDA, o estardalhaço de LAURENCE ANYWAYS e agora com esse elenco estelar que reúne Léa Seydoux, Marion Cotillard, Vincent Cassel e Gaspard Ulliel. Um pouco mais silencioso está Dennis Villeneuve com 45% de chances de repetir a história de SICÁRIO e levar agora STORY OF OUR LIVES para o tapete vermelho.
Da América Latina, silêncio absoluto. Um cinema quase inaudível que sussurra em poucos projetos, quase nenhum SOM AO REDOR, mesmo porque Kleber Mendonça Filho sequer montou seu AQUARIUS (ou o fez em segredo absoluto). O GRANDE CIRCO MÍSTICO de Cacá Diegues foi cogitado, mas tem 1% de chances de ser selecionado e provavelmente seria na Quinzena dos Realizadores. Melhor esperar algo da estreia de Gabriela Amaral Almeida, não por seu ANIMAL CORDIAL, mas pelo barulho que seu produtor, Rodrigo Teixeira (lê-se RT Features) faz. A BRUXA e MISTRESS AMÉRICA que o digam em Sundance.
Da Argentina, nada de outros RELATOS SELVAGENS, apenas a calmaria da mesa de edição, donde está agora ZAMA, de Lucrécia Martel, muito provavelmente fora de Cannes, assim como o mexicano LA REGIÓN SALVAJE de Amat Escalante. Uma possibilidade é Pablo Larraín, outrora queridinho da Berlinale, mas misteriosamente de fora nesse ano com NERUDA.
Nessa calada, vale ainda comentar o projeto de Paul Verhoeven, ELLE, pronto desde o ano passado, desde o último Marché du Film e inexplicavelmente fora do ultimo Festival de Veneza. E, claro, os ingleses Andrea Arnold (AMERICAN HONEY) e Ken Loach (I, DANIEL BLACK), ambos com 84% de chances de serem selecionados.
Por fim, os franceses, a “joie de vivre” do Festival: Não foi confirmado ainda, mas nos parece óbvio que MA LOUTE, de Bruno Dumont, abre a Quinzena dos Realizadores. E pela competição, como sempre, teremos Olivier Assayas (PERSONAL SHOPPER, 74% de chances), Bertrand Bonello (NOCTURAMA, 71%), Alain Guiraudie (RESTER VERTICAL, 58%), Asghar Farhadi (THE SALESMAN, 46%) e Rebecca Zlotowski (PLANETARIUM, 46%).
Há mais? Muito mais! Uma lista enorme de possibilidades que você pode encontrar aqui e, cujo “silêncio”, Cannes quebrará em breve, precisamente na próxima Quinta, dia 14, com cobertura total do nosso site.