O Brasil no #Oscar2020: Se for, vai na paz

Depois do PEQUENO SEGREDO em torno da alucinação coletiva de escolher o (insonso) filme de David Schurmann para o Oscar 2017 e O GRANDE CIRCO (MÍSTICO?) que foi a escolha de um filme flopado para o Oscar 2019, as expectativas para qual título o Brasil vai escolher para representa-lo no Oscar 2020 estão bem abaixo do “qualquer coisa”. A safra, em tese, está boa, temos BACURAU, de Kleber Mendonça Filho (Prêmio do Júri em Cannes 2019), A VIDA INVISÍVEL DE EURÍDICE GUSMÃO, de Karim Aïnouz (Melhor Filme da Un Certain Regard), DIVINO AMOR, de Gabriel Mascaro (exibido em Berlim e Sundance) e ainda, um degrau abaixo GRETA (Armando Praça), MARINGHELLA (Wagner Moura), HEBE (Mauricio Farias), TURMA DA MÔNICA – LAÇOS (Daniel Rezende) e os ainda inéditos PIEDADE, de Cláudio Assis (cotado para Veneza´76), TODOS OS MORTOS, de Marco Dutra & Caetano Gotardo (Locarno?) e A DIVISÃO, de Vicente Amorim (Toronto?).

E quem escolhe é a Academia Brasileira de Cinema, os mesmos “produtores” do Troféu Grande Otelo que concederam, esse ano, 12 indicações para CHACRINHA: O VELHO GUERREIRO, de Andrucha Waddington (alguém viu?) e outras 10 indicações para o cirquinho de Cacá Diegues (!!!), esnobando vários títulos de relevância como TEMPORADA, ARÁBIA, AOS TEUS OLHOS, CANASTRA SUJA, enfim… um desastre. E embora a comissão esteja acima dessa generalização da ABC, do desmonte da ANCINE, é extremamente difícil crer que a escolha não seja, de fato política. Comissão essa, formada pelos cineastas Anna Muylaert (QUE HORAS ELA VOLTA?), David Shürmann (PEQUENO SEGREDO, afff), Zelito Viana (AVAETÉ – SEMENTE DA VINGANÇA); pelas produtoras Sara Silveira (AS BOAS MANEIRAS) e Vania Catani (O PALHAÇO), o diretor de fotografia Walter Carvalho (CENTRAL DO BRASIL); o roteirista Mikael de Albuquerque (REAL: O PLANO POR TRÁS DA HISTÓRIA, risos), pelo crítico e curador Amir Labaki, fundador do Festival É Tudo Verdade e por Ilda Santiago, diretora do Festival do Rio, ou seja, um grupo de respeito, mas ousado a ponto de indicar BACURAU, a escolha mais óbvia? Seria surpreendente.

E BACURAU, apesar de óbvio, não é unanimidade, sim, um filme extraordinário que nos remete diretamente ao genuíno cinema novo, como foram VIDAS SECAS, OS FUZIS e DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL, mas também um filme de ritmo irregular e grave discurso antiamericano. Para um Festival europeu de cinema, funciona, mas funcionaria nos EUA? Isso é um bom debate. Também é difícil acreditar que, num país de (des)governo de extrema direita, escolham o soft pornô evangélico DIVINO AMOR, ou o gay GRETA ou mesmo no panfletário MARINGHELLA. A escolha, saibam, será num consenso, num voto de paz, num filme neutro que não fere nenhuma sensibilidade, mas cujo cinema, enquanto cinema, é catártico ao ponto de comover e se sobressair e, sim, falamos dA VIDA INVISÍVEL DE EURÍDICE GUSMÃO, um melodrama dos trópicos ao gosto de Douglas Sirk e Gabriel García Márquez e cujo apogeu é, senão, o monologo final de Fernanda Montenegro, a mesma atriz que disputou o Oscar com Gwyneth Paltrow em 1999 e pode, agora, voltar, senão com EURÍDICE, talvez com PIEDADE. Nosso palpite fica entre esses dois.

Lá fora, a briga é brava: um dos curadores de #Venezia76 nos confidenciou que a qualidade da safra de filmes latino-americanos submetidos ao festival não tem precedentes (!). Cita, por exemplo, além dos títulos nacionais (aguardem uma maciça indicação do Brasil em diversos panoramas), filmes do México, Argentina, Chile, Guatemala e Colômbia. Do Chile, por exemplo, é quase certo a escolha do musical EMA, de Pablo Larraín (que estava acertado para competir em Cannes e, no último minuto, foi adquirido pela Netflix, o que inviabilizou a vaga) ou então, ARAÑA de Andrés Wood. Da Colômbia, espera-se MONOS, de Alejandro Landes (exibido em Berlim e Sundance). A Guatemala tem dois títulos fortes, além de TREMORS, de Jayro Bustamante (#Berlinale19), provavelmente OJALÁ EL SOL ME ESCONDA, de Júlio Hernández Cordón (que vai a #Venezia76). O México tem o bonitinho CHICUAROTES, de Gael García Bernal (#Cannes19) e certamente MANO DE OBRA, de David Zonana (#Venezia76), ou mesmo algum dos concorrentes ao Ariel (O “Oscar mexicano”), LAS NIÑAS BIEN ou LA CAMARISTA.

Da Ásia, o grande favorito ao #Oscar2020 é a Palma de Ouro (a primeira Palma de Ouro da Coréia do Sul, vale dizer), o filme soduku PARASITE, de Bong Joon-ho, um filme que também está cotado aos Oscars de Direção e Roteiro Original. A China é outro forte concorrente com o provável SO LONG, MY SON, de Wang Xiaoshuai, Urso de Prata de Melhor Ator e Atriz em Berlim (!). Outros fortes concorrentes viriam do Oriente Médio, certamente o Urso de Ouro, SYNONIMES, do israelense Nadav Lapid, mas também o palestino Elia Suleiman, com IT MUST BE HEAVEN.

Por fim, a Europa: O país mais forte de momento é a Espanha, que além de DOR E GLÓRIA, de Pedro Almodóvar, pode escolher também O QUE ARDE, de Olivier Laxe; LIBERTÉ, de Albert Serra ou MIENTRAS DURE LA GUERRA, de Alejandro Amenábar. A França está dividida entre RETRATO DE UMA JOVEM EM CHAMAS (Céline Sciamma), LES MISÉRABLES (Lady Ly) e GRAÇAS À DEUS (François Ozon). Já a Itália, por falta de opção, pode fechar nO TRAIDOR (Marco Bellocchio), isso se MARTIN EDEN, de Pietro Marcello, não levar o Leão de Ouro. Outros contenders europeus que podem surpreender: AND THEN WE DANCED (Levan Akin, Geórgia), OUT STEALING HORSES (Hans Petter Moland, Noruega), BEANPOLE (Kantemir Balagov, Rússia), GOD EXISTS, HER NAME IS PETRUNYA (Teona Mitevska, Macedônia) e A TALE OF THREE SISTERS (Emin Alper, Turquia).


Principais Contenders ao Oscar de Filme Estrangeiro

Afeganistão: THE ORPHANAGE . Shahrbanoo Sadat
Alemanha: I WAS AT HOME, BUT . Angela Schanelec
Áustria: CRUSH MY HEART . Alexandra Makarová
Bélgica: LE JEUNE AHMED . Jean-Pierre & Luc Dardenne
Brasil: A VIDA INVISÍVEL DE EURÍDICE GUSMÃO . Karim Aïnouz
Brasil: BACURAU . Kleber Mendonça Filho & Juliano Dornelles
Brasil: DIVINO AMOR . Gabriel Mascaro
Canadá: MATTHIAS & MAXIME . Xavier Dolan
Chile: EMA . Pablo Larraín
Chile: ARAÑA . Andrés Wood
China: SO LONG, MY SON . Wang Xiaoshuai
Colômbia: MONOS . Alejandro Landes
Colômbia: TANTAS ALMAS . Nicolás Rincón Gille
Córeia do Sul: PARASITE . Bong Joon-ho
Espanha: DOR E GLÓRIA . Pedro Almodóvar
Espanha: MIENTRAS DURE LA GUERRA . Alejandro Amenábar
França: RETRATO DE UMA JOVEM EM CHAMAS . Céline Sciamma
França: GRAÇAS À DEUS . François Ozon
França: LES MISÉRABLES . Lady Ly
França: LA VERITÉ . Hirokazu Kore-eda
Georgia: AND THEN WE DANCED . Levan Akin
Guatemala: TREMORS . Jayro Bustamante
Guatemala: OJALÁ EL SOL ME ESCONDA . Júlio Hernández Cordón
Holanda: BENEDETTA . Paul Verhoeven
Hungria: COMRADE DRAKULICH . Márk Bodzsár
Índia: PHOTOGRAPH . Ritesh Batra
Israel: SYNONIMES . Nadav Lapid
Itália: O TRAIDOR . Marco Bellocchio
Itália: MARTIN EDEN . Pietro Marcello
Macedônia: GOD EXISTS, HER NAME IS PETRUNYA . Teona Mitevska
Marrocos: ADAM . Maryam Touzani
México: LAS NIÑAS BIEN . Alejandra Márquez Abella
México: LA CAMARISTA . Lila Avilés
México: EL DIABLO ENTRE LAS PIERNAS . Arturo Ripstein
Noruega: OUT STEALING HORSES . Hans Petter Moland
Noruega: BEWARE OF CHILDREN . Dag Johan Haugerud
Palestina: IT MUST BE HEAVEN . Elia Suleiman
Peru: CANCIÓN SIN NOMBRE . Melina León
Polônia: CORPUS CHRISTI . Jan Komasa
Portugal: TECHNOBOSS . João Nicolau
Romênia: THE WHISTLERS . Corneliu Porumbuiu
Rússia: BEANPOLE . Kantemir Balagov
Rússia: IL PECCATO . Andrej Končalovskij
Senegal: ATLANTICS . Mati Diop
Sudão: YOU WILL DIE AT 20 . Amjad Abu Alala
Suécia: IN ALL ENDLESSNESS . Roy Andersson
Turquia: A TALE OF THREE SISTERS . Emin Alper
Ucrânia: LUXEMBOURG . Miroslav Slaboshpitsky
Vietnã: A TERCEIRA ESPOSA . Ash Mayfair

Article Tags:
Article Categories:
AWARDS

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.