Na tela, um câncer: Primeiro o de uma pessoa. E depois, com a projeção, o caos, o suspense, o desespero nos tomando de assalto, também da protagonista, sua esperança se esvaindo por completo diante do tempo que urge, o ritmo agressivo, a situação fora de controle, vemos também a doença se alastrando pela sociedade, sim, indiferente diante de qualquer coisa além do próprio umbigo. E assim o é até o mais insuportável, o irreparável. Não à toa esse vortex que Rodrigo Plá filma e nos engole. A hidra mitológica de mil egos e interesses (e nenhum em comunhão com o ser humano, infelizmente).
Então voltemos ao submundo, à LA ZONA, ao câncer da sra. Bonet diante desse MONSTRO DE MIL CABEÇAS, mil faces, diversos personagens, inconsequentes, incapazes, cada um entrando e saindo de cena ao seu bel-prazer, regredindo e progredindo no tempo, mil pontos de vistas, senão testemunhas de um (o)caso perdido. E nessa espiral de emoções difusas, na explosão de ações e reações, a câmera descendo ao inferno, ao mais baixo nível, se esgueirando pelo imprevisto, o inusitado, noite afora, enquanto alguém, lá longe, morre, sofre, ou se perde. Eis o fim, ali diante de nossos olhos, diante de todos, o júri, o juiz e o promotor, sem defesa, sem sentença. Não há nada mais o que se fazer. Nem remédio, nem tratamento, porque o carcinoma é maligno.
Talvez seja outrA MORTE DO SR. LAZARESCU, ou algUM EPISÓDIO NA VIDA DE UM CATADOR DE FERRO-VELHO, mas aqui, o retrato é mais cruel, mais sórdido: Uma narrativa fragmentada, cada vaidade se entrecruzando, como espelhos refletindo ou deformando essa via crucis, sim, de uma mulher em busca do que lhe é de direito, no auge do desespero, enquanto o monstro se alimenta da (pouca) empatia, medo ou rejeição que se sequestra, à força, um a um, galgando pirâmide acima, da atendente ao diretor, toda a burocracia de uma corporação corrupta, negligente. Esse é o abuso. A omissão. Está doendo? Está bem? Não, não está. Sra. Bonet está sozinha.
RATING: 72/100
TRAILER