Culpa e Desejo

Um surto de paixão, de ABUSO DE FRAQUEZA, amores de verão entre uma mulher e um jovem em deleites burgueses até se tornar algo mais perturbador, perigoso, é o que Catherine Breillat nos propõe (e de novo): da refilmagem de um título dinamarquês, do outrora RAINHA DE COPAS de 2019, ela repete cena por cena – o assalto, a praia, um beijo, a intimidade, o aniversário das gêmeas, a discussão, a casa de campo – a mesma ordem, os mesmos diálogos, donde antes era sombrio, frio e irreversível à maneira escandinava, agora somente cortante, meio blasé ao jeito francês. Troca-se Trine Dyrholm por Léa Drucker, sai o fogoso Gustav Lindh para entrar esse menino, Samuel Kircher, e tudo se põe a perder, até o potencial erotismo do original se reproduz em processos estranhos, mundanos, a câmera tão-só para o rosto de um jovem voltado à mecânica do ato, dificilmente à mercê do impulso, não convence. Todo o suspense se esvai, torna-se melodrama doméstico.

Sim, o argumento ainda é de uma mulher adulta, que satisfaz suas necessidades às custas de um estudante do ensino médio psicologicamente frágil e depois, com a habilidade de uma advogada, culpa este pelo ocorrido, evita punições e, além disso, recebe o aceite humilde do marido. Sim, o prazer feminino está no centro da história, ainda é CULPA E DESEJO como diz o título em português, mas a cineasta, talvez para nos provocar, reorganiza sutilmente as cenas para romantizar esse argumento e, ao fazê-lo, afrouxa a tensão, todo um apetite sexual, filma o ato luminoso, uma pureza de desejo e sentimentos – UM ÚLTIMO VERÃO, como diria o título francês – e dessa forma – ela própria cita em entrevista -, rompe definitivamente com tudo o que já fez até então.

O curioso é o porquê agora, aos 74 anos, quase dez anos depois do último filme, justamente UMA RELAÇÃO DELICADA com o cinema e justamente com um roteiro que obviamente demanda tal erotismo…. é um mistério. Fato é a tentativa de se desvencilhar desse rótulo “sensual” que muitas vezes lhe é atribuída, isso pela onipresente pulsão amorosa de sua filmografia e que agora, diante da sinopse, o potencial ou expectativas, não te mantém no suspense, não te cativa com a história. Sem culpa, sem desejo, é um filme tão pálido quanto seus protagonistas.

RATING: 67/100

TRAILER

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FILMES · CANNES · TIFF

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