Assassinos da Lua das Flores

ASSASSINOS DA LUA DAS FLORES é um dos filmes mais ricos (e épicos) de Martin Scorsese: um imponente e extravagante faroeste, o cinemascope da esmagadora ganância que acompanha os primórdios da colonização e civilização de um povo, e cuja dissecação da história resume os mesmos passos dO IRLANDÊS e GANGUES DE NOVA YORK no vasto empreendimento criminoso que nos remete igualmente a outros filmes de máfia – O PODEROSO CHEFÃO, OS BONS COMPANHEIROS, ERA UMA VEZ NA AMÉRICA –, sendo quase como um spin-off de SANGUE NEGRO. Ele retrata uma terrível conspiração generalizada contra a nação indígena Osage em Oklahoma, mortos pela herança e direitos de propriedade das vastas reservas de petróleo que jaziam sob suas terras.

O roteiro tão somente reverte o protagonismo do folhetim original, o faz sob uma perspectiva antropológica (e não à toa a projeção abra e encerre com rituais tribais), nos conta essa história sobre os olhos de Leonardo DiCaprio, seu romance com a personagem de Lily Gladstone e, então, o intercurso dos crimes e todos os tribunais. A encenação, esse balé teatral entre atores, texto, câmera e cenário, é impressionante (como a cena da descoberta do petróleo, a sequência dos diversos assassinatos), isso pontuado por uma trilha lúdica que, ora são tambores de guerra, ora um fino acorde de guitarra, e que nos deixa constantemente em alerta.

Uma obra-prima anunciada e cujo cinema corresponde imponentes três horas e meia de projeção, como convém a filmes que devam inspirar respeito e admiração, feito na habitual encenação magnífica, o controle absoluto da máquina cinematográfica de Scorsese, incluso os deslumbrantes enquadramentos, a montagem precisa, um roteiro de clareza moral capaz de abalar as certezas complacentes da América desde seus alicerces, logo o “nascimento de uma nação”, recriado e revisto, o processo convulsivo que encobriu um genocídio, o racismo, a supremacia branca e sim, proporcionou belos westerns, mas foi incapaz de exonerar a culpa do sangue derramado e, somente agora, o cineasta filma a justa sentença, ainda que tardia, ainda que ficção, uma história que precisava ser contada e de fato foi, grandiosamente.

RATING: 85/100

TRAILER

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FILMES · CANNES

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