Damsel


Pelas fronteiras da América, pelo Faroeste selvagem, sombrio e sem lei, muitos cineastas se aventuraram – Sergio Leone, Budd Boetticher, John Ford e Sam Peckinpah em mente – mas nunca, ninguém ousou filmar o que os irmãos Zellners o fazem agora, uma reinvenção amorosa do gênero, um borrão entre as linhas do herói, vilão e donzela, algo mais turvo e complexo, não um “western spaghetti”, mas talvez um “western moussaka”, tal o fetiche desses cineastas com o cinema de absurdo ou senão a filmografia grega.

Então, seu filme extrapola as dinâmicas do gênero, todos os arquétipos conhecidos em troca de elementos estranhos, personagens estranhos e completas reviravoltas narrativas. Em DAMSEL ainda temos um galante pioneiro – na tela, Robert Pattinson e seu pônei “Caramelo” -, ainda temos uma “donzela em perigo”, mas nada é o que parece… Sim, ainda estamos no Velho Oeste, em belas panorâmicas, em algum lugar, em algum ano no tempo das diligências, mas a paisagem é incerta, varia de uma praia arborizada para um deserto vermelho, tudo é muito ambíguo, nada faz sentido e, ao mesmo tempo, o roteiro transcorre sutil, ainda que surreal. O protagonista segue heroico, virtuoso e dedicado, sempre em busca quixotesca de sua amada, sempre num resgate audacioso e romantizado e – do nada – sai de cena, num piscar, como se estivesse num episódio dos “Looney Tunes”.

Em seu lugar, Mia Wasikowska e sua Penélope (Charmosa? Em apuros?) desafia as expectativas, se encarrega da história – e do filme -, fazendo o contraponto de vulnerabilidade e força. O cenário permanece incrivelmente cômico, mas se leva estranhamente a sério, entre a comédia e a tragédia, num tom feminista, uma piada cruel ou talvez o mais fidedigno (contemporâneo?) dos faroestes e donde cada personagem se revela, de repente, do mais banal ao mais extraordinário. Nesse confronto de morais, nesse bangue-bangue atrevido de normativas, ficamos aturdidos pelo tiroteio, afinal por esse cinema. “Você está brincando comigo?”. Para os Zellners, talvez… seu filme é dinamite.

(*) Crônica livremente inspirada do material cedido pela Premier Films, incluso notas de produção e entrevista com os diretores
RATING: 57/100

TRAILER

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REVIEW · BERLIM · SUNDANCE

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