Da mesma Índia, em 2014, já vimos COURT, de Chaitanya Tamhane, um estudo detalhado de como funciona o sistema jurídico desse país, algo que tramita entre o obsoleto e o irracional, entre o (in)justo e o (i)legal e, agora, um novo episódio dessa luta de classes, nessa essência kafkiana de um (terceiro) mundo donde (parece) reina o patriarcado e o feudalismo. Uma denúncia que cabe não apenas à encenação, ou ao filme, mas também às autoridades, porque tudo é verídico e assim relatado por Chandhra Kumar e suas (dolorosas) experiências com a polícia local. Sim, ecos dA HORA MAIS ESCURA em mente.
Na tela, as crônicas de (uma) prisão, donde qualquer um, geralmente o mais indefeso, um emigrante sem teto, trabalho ou dinheiro pode ser acusado de algum crime e, então, tratado da forma mais subumana pela noite adentro, assim revistado, surrado ou espancado. Numa sala mínima, num calor insuportável, pendurados pelos pés, a sola espancada, as costas chibatada, a pele vergastada… Os gritos. O horror. A câmera complacente com tudo, em cada cena, donde um minuto, se torna uma eternidade. E esse é apenas o inquérito preliminar porque a selvageria persiste em seu mais brutal enquanto os inocentes clamam por justiça e os policiais pela culpa até que o caso ser encerrado.
E esse é o interrogatório-pesadelo que o cineasta Vetri Maaran nos propõe, não só entre a “policia” e o “bandido”, mas da omissão do “Estado” com as atrocidades de seus oficiais. Em tese, o cerne de ser POLICIA, ADJETIVO, algo certo, justo, meramente digno, mas não o é porque nesse país – também no Brasil da Candelária, Carandiru e Osasco – reina a impunidade. Ao final, o diretor insiste no reino da conspiração e falcatrua, algo um tanto (in)crível e, portanto, desconexo, mas seu panfleto inicial, cada chicote da primeira parte certamente vai arder no público. E, talvez, essa é a principal confissão para um (bom) cinema-panfleto.
RATING: 67/100
TRAILER