Mate-me, Por Favor


São tempos de medo, de terror…
Nós somos seus amigos, seus vizinhos.
Estamos em toda parte.


Fim de noite. Somente o vazio, as luzes, o marasmo depressivo do fim da balada. Ao centro, uma mulher diante do nada “enquanto a cidade dorme e os assassinos estão à solta”. Ela caminha, depois corre. Para aonde? Por que? Talvez para seu fim, o nosso fim. Então, MATE-ME, POR FAVOR, nesse filme, por esse filme.

Aos poucos o que se vê é uma obsessão mórbida por essa garota que se foi. A FESTA DA MENINA MORTA, celebrada como lenda urbana, mero fetiche para um filme “coming age”, senão as reminiscências da própria diretora, Anita Rocha da Silveira, suas próprias memorias e emoções, e tudo experimentado na adolescência: A descoberta do amor, do sexo desenfreado, o desejo que flerta com a morte, esse fascínio tão característico da juventude transviada, e isso no Rio, na Barra da Tijuca, donde a sociedade se divide em CASA GRANDE e senzala, entre o possível e o impossível, nas redes sociais, no funk descontrolado, afinal na ausência de qualquer orientação ou limites.

Sim, o “eu lírico comido por vermes”, ali num shopping qualquer, de uma poesia qualquer, enquanto depois se passeia pelos terrenos baldios, pela noite, a sensação de beijar lábios frios e ensanguentados, a sexualidade efervescente, apunhalada ali, bem devagarzinho. E depois desse encontro com a morte, fazer tudo para se certificar que está vivo. Um círculo vicioso, obsceno, obsoleto. A festa de debutante em cenas góticas e toques de ultrarromantismo, paisagens sombrias, donzelas em perigo, na escada, no banheiro, pelas ruas, envoltas em vultos, véus e nada na cabeça, além do desejo e frustração. A cidade amanhece. Há um morto entre nós, nenhum anjo, nenhum policial… Somente o assassino e esse filme, então, MATE-ME, POR FAVOR, porque a projeção se arrasta e nos arrasta para o inferno (cinematográfico).

RATING: 35/100

TRAILER

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FILMES · VENEZA · RIO · MOSTRA SP

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