Viver é opressivo… Os mais espertos rapidamente assimilam esse fato. Os idiotas, talvez aceitem. Charlie Kaufman filma. E o faz retratando o “modus operandi” do mais ordinário, esses loosers (ou não) perdidos em sua estima, sem rumo, sem objetivos, apenas o tédio e o vago BRILHO ETERNO (DE UMA MENTE SEM LEBRANÇAS), ou talvez em eterna ADAPTAÇÃO com seu lugar ao mundo, pecinhas de um gigantesco quebra-cabeça que não se encaixam, jamais se conectam, seja ao redor, aos outros, ou ao próprio universo. E é assim, talvez em SINÉDOQUE, NOVA YORK ou até mesmo em Cincinnati, que o diretor/roteirista organiza o caos, em post-its, em puppets, em película.
E agora com Michael Stone, o marido, o pai, o respeitado guru motivacional: Um homem totalmente vazio, corrompido pela meia idade, isso incluso o casamento, o passado, os fantasmas. E ali, aprisionado pelo ser humano, entre os corredores de um luxuoso hotel, diante da quarta parede, seu público, seu júri. Check in. E todos cativos nessa surreal e tragicômica mente humana, pela palestra noite afora, vivendo um pesadelo kafkiano, ou talvez kaufmaniano, se assim o preferir. E nessa “falsa” claustrofobia, sufocados pela demasiada cortesia, pelas vozes, a pressão, as paredes se fechando, ou se expandido, ao ponto de ser necessário um carrinho de golfe para percorrer tal distancia, nada é suficiente, tudo é descartável, oco, ele próprio, sem vida, um boneco, literalmente.
Nesse tom, é quase um alivio encontrar algum bug, uma anomalia. ANOMALISA. E é nesse ponto que surge um anjo oriundo dos céus, do quarto ao lado ou de Akron. A doce Lisa de tantos encantos, tão solitária quanto, e ambos nesse ensaio de relação, nos rudimentos da conversa, do sexo, da convivência. Tão simples e tão complexa, a noite passa, a manhã traz consigo ovos mexidos e um pouco de casualidade e a sensação permanece, esmagadora. Aquele ócio. O vazio. As oportunidades escapam, as portas se fecham. Check out. E de novo à vida e, sim, viver é opressivo.
RATING: 88/100
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