Divaldo Franco
Na tela, vários dramas em vários corpos: Inertes, destruÃdos, incapazes, brutalizados, incompreendidos, solitários ou esfomeados. São mero peso morto em um filme que tenta entender ou o luto por si só ou a vida que percorre por esses corpos. A alma, as sensações, as emoções, enfim a existência que pulsa à esmo nesses três personagens, jovens e velhos, em diferentes estágios de tristeza e compreensão.
E Malgorzata Szumowska, EM NOME DE…, não sabemos ao certo, filma cada um desses corpos, ora no drama, ora na comédia, em pequenos episódios, a história de um pai que perde sua filha anoréxica. De uma filha que perdeu sua mãe. De uma mãe que perdeu seu bebê. Todos perdidos nesse torpor e, também, no humor negro, em meio ao corpo. Ao filme.
E eis a ideia: De um corpo repleto de significados diferentes – fÃsico, astral, imortal -, afinal um objeto para ser adorado ou odiado, desejado ou repelido, cultuado ou desmembrado. Dessa jovem que odeia seu corpo, senão uma vÃtima do status quo, desse manequim ideal que a sociedade cultua, mas no final não existe. De um homem que vê cadáveres, todos os dias, ele próprio um zumbi em sua existência, e pelo qual os corpos são o meio de sobrevivência, senão meros objetos. De uma mulher que vê fantasmas, corpos etéreos a vagar pelo espaço, o tempo, o cosmos… Cada personagem, preso em seu próprio corpo, nesses corpos desfigurados, a autenticidade de cada corpo, sua identidade fÃsica, suas memorias, tudo destruÃdo, aniquilado. Não há mais corpo. Não há mais impressões. Qualquer expressão. O corpo se foi. Sua esposa, mãe e filho se foram. A vida prossegue.
E é dessa dualidade, de como tudo aos poucos se resolve e se esquece, do corpo que fica entre a inibição e a explosão, do espirito que fica entre as lembranças e as emoções, é que a diretora vai encorpando seu filme. E pela projeção, vemos esses fantasmas, outrora pessoas, outrora corpos. Pensamos com eles, nos solidarizamos. Às vezes, rimos. Essa é a linguagem. A terapia.
RATING: 67/100
TRAILER