Lua de Júpiter


Da LUA DE JUPITER, da Hungria, um tiro… depois, um desafio de levitação e inspiração, um conto visionário e decididamente orwelliano sobre um mutante (supostamente) superior e todos os outros coitados caídos em desgraça. E é nessa diatópica alegoria social, nesse portentoso exercício de câmera, que Kornél Mundruczó se propõe a discursar sobre o herói byroniano, o homem supérfluo, “àquele envolto em solidão e mistério, pouco visto a sorrir e raramente ouvido a suspirar”. E o faz no melodrama político, no drama contemporâneo. Na tela, a pária da sociedade, o símbolo da crueldade, um sistema niilista, ao qual não cabe refúgio, conforto ou asilo. Uma sátira, sim, meio burlesca, mas de reações (e resultados) extremos. Ame ou deixe.

E diante de tal absurdo, só nos resta o medo latente e suas trágicas consequências: No céu, tão perto do Sol, Zsombor Jéger encarna o mito de Ícaro e, dali, rumo ao despenhadeiro, perseguido por sanguinários, sorrateiramente traído, vendido, treinado, exposto, humilhado… É, senão, Oliver Twist de Charles Dickens, o miserável de Victor Hugo. A conexão com o espectador se torna fantástica. O vínculo se torna quase religioso. E o diretor retrata tal redenção com esmagadora pirotecnia, nos oferecendo uma crônica jamais vista ou feita, tal a sua força ou vivacidade. Filma com apetite, dedilhando no suspense, no terror, no pedigree dO FILHO DE SAUL, pela vertigem, pelos rodopios, sua câmera-drone flertando com os takes dO TIGRE E O DRAGÃO. Sim, um cinema portentoso, pretensioso, que parece caro, mas é um pouco caricato. É, afinal, a marca de um cineasta que entrega seu coração ao cinema sem perder um pingo sequer da energia pictórica que sempre o caracterizou.

“Júpiter tem muitas luas, que foram descobertos por Galileu, e uma delas é chamada Europa”. Para o cineasta, essa é a história da Europa, enraizada na crise europeia, particularmente em seu país. Ao mesmo tempo, tem um toque de realismo fantástico, envolto em música eletrônica e ficção científica. Fala de fé, de milagres, de diferença. Pena que tudo ao mesmo tempo, num videoclipe tecnológico, repleto de CGI e pseudopoesia. O resultado é (outro) filme da DC Comics (Eu li BATMAN VS. SUPERMAN?), embalado em tiroteio, perseguição e no que se pensa do cinema europeu de ação.

RATING: 61/100

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FILMES · CANNES · MOSTRA SP

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