Moonlight


Ser homem. Ser gay. Ser negro. Em cada fase de sua história, na infância, na adolescência, na vida adulta, diante de si, dos outros, de uma mãe (drogada), de um pai (ausente), na praia, envolto na luz azul da lua, no asfalto invadido pela vergonha, no carro ao lado de uma companhia, um sorriso ou conversa. Na sinfonia, nos socos, na solidão, MOONLIGHT nos tira da escuridão, nos lança uma sombra. Nos invade de melancolia, de fragilidade, de movimento, de força. Fala de perdas. De saudade. De estima. E além de qualquer gênero, escolha ou raça, fala do que realmente importa: Ser verdadeiro.

A história nos remete à Tarell Alvin McCraney, particularmente sua vida e sua peça autobiográfica, “In Moonlight Black Boys Look Blue”. Também nos remete à Barry Jenkins, no seu desejo de filmar as pessoas, que elas se reconheçam no cinema e – ainda mais importante – que aceitem o outro. E nesse entendimento, contar a história de Chiron, a construção do seu caráter, de sua masculinidade, a força “alpha” que tal raça impõe, ou sugere, ou dita os pré-conceitos. Nessa infância, nas lutas diárias, o menino conhece Juan (Mahershala Ali), um traficante que lhe “adota” e lhe educa para a vida. E aqui, a primeira reviravolta em nossos preconceitos: Longe de qualquer estereótipo conhecido, Juan nos ensina a ser homem.

Então, a adolescência, o despertar sexual e um novo questionamento: Sendo homem, como se deixar levar pela vulnerabilidade de seus desejos? Em divergência com as normas masculinas? Do que se pensa ser masculino? E novamente uma reviravolta de conceitos porque o cineasta, diante de um filme tão másculo, nos mergulha em poesia, na areia, nas experiências, nas sensações, diante dos corpos, dos olhares, de um toque. Nada especial, nada diferente, aparentemente normal como tantos outros, tantas escolhas, apenas ser gay.

Sim, um filme de cor, de brilho e contrastes. E é assim porque Barry Jenkins inunda a projeção de luz, seja do Sol ou da Lua, lhe dando uma dimensão onírica donde cada frame é intenso, cada rosto é visualmente belo. E, ao mesmo tempo, prega na essência, a opressão, a classe, a sexualidade. Questões de identidade e homofobia. Tantos traumas, universais, atuais, essenciais, mas sobretudo, o que é ser negro.

E você sente na pele. Seja homem. Seja gay. Seja negro. Ou não. A arte está aí para refletir.

(*) Crônica livremente inspirada do material cedido pela A24, incluso trechos do roteiro e entrevista com Tarell Alvin McCraney
RATING: 88/100

TRAILER

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FILMES · TIFF · FILMES LGBT · ROTTERDAM

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