O jogo de luz e sombra do Oscar 2011


Algumas surpresas e ausências marcaram as indicações do 83° Academy Awards, marcadas pelo protagonismo do Sr. Facebook, um rei tartamudo, uma bailarina neurótica, um cowboy pirata e “outro” lutador. Cinco títulos cujos personagens (com mais ou menos indicações do que o esperado) em absoluto não nos espantam. As surpresas vieram reservadas para outros títulos. As agradáveis são INVERNO DA ALMA, DENTE CANINO, EXIT THROUGH THE GIFT SHOP, MINHAS MÃES E MEU PAI. As desagradáveis vieram igualmente com as ausências, o esnobismo, o esquecimento. Faz parte do jogo de luzes e sombras de uma premiação que nunca acerta ou erra, mas sempre é justa, bem ao seu modo:

As luzes…


O indie

Era obvio e ao mesmo tempo incerto: Melhor Filme no Festival de Sundance, o Gotham Awards, Festivais em Estocolmo e Turim, o principal favorito ao Independent Spirit Awards e agora estrelando o Oscar com 4 indicações (Melhor Filme, Atriz, Ator Coadjuvante e Roteiro). Esta é a incrível carreira de INVERNO DA ALMA, um filme indie de essência pura (não falamos da marca, mas da essência) que desliza merecidamente entre os títulos mais influentes que o cinema americano nos ofereceu em 2010, dito aqui e também por toda a crítica internacional. Um consenso absoluto, enfim.

INVERNO DA ALMA é um filme com a alma do cinema de autor dentro de uma aparência de série B e um firme esqueleto noir que o converte no que ele realmente é: Um cruel drama de realismo social. Por milagre, parece que a Academia pensa o mesmo.

A polêmica

Foi uma das sensações de Cannes (Prêmio “Um Certo Olhar”) e Sitges (Prêmio FIPRESCI). Foi uma daquelas obras inclassificáveis, profanas, perturbadoras, transgressoras, polêmicas, inovadoras. Um daqueles filmes que pode ser deslumbrante ou atordoante. Historia de amor ou ódio, para criar dependência ou alergia, mas, fato, jamais causa indiferença. O grego Giorgios Lanthimos fez de DENTE CANINO um pequeno terror diário, um tanto preocupante, cujas referencias evocam SALÓ de Pasolini, VIOLENCIA GRATUITA de Haneke e DOG DAYS de Ulrich Seidl.

Em definitivo, uma proposta, em princípio, com todos os ingredientes necessários para não ser indicada. Mas por milagre, pisará no tapete vermelho. Ver para crer. O Oscar, se vier, seria uma utopia.

A mãe

Com uma presença física que evoca uma espécie de cruzamento entre Beverly D’Angelo e Faye Dunaway (em seu auge) e na interpretação avassaladora de um personagem diretamente inspirado em Karen Black na icônica HOUSE OF 1000 CORPSES, de Rob Zombie ou mesmo a Lady McBeth de Shakespeare, Jackie Beaver dá (a) vida em REINO ANIMAL. Uma mãe que parece amar seus filhos, mas cuja única razão de vida é sentir-se o centro das atenções. Em suma, um personagem extremamente complexo, uma mãe que pode não ser mãe. Uma leoa. Uma peca chave nesse Reino Animal de tragédias pessoais, inovadoras e únicas. Um misto de novelas gregas com Shakespeare. Merecidissima indicação. O Oscar seria uma recompensa.

A contracultura

Foi a estrela de Berlim, foi a estrela de Sundance e, claro, também foi em San Sebastian. Todos ouviram falar que era bom, muito bom, extremamente bom… Na verdade é uma jóia. Um documentário, sim, um “mockumentary” com todos os ingredientes necessários para se tornar “o” documentário do ano. Jovial, original, criativo, transgressor, alegre, dinâmico e acima de tudo, engraçado e surpreendente. Tudo isso deu origem a uma interessante reflexão sobre a arte do mundo e da contracultura.

Aqui, o caçador se tornar presa, Presa se torna caçador. Este é o exercício espontâneo do enigmático Banksy. Observadores sendo vigiados e observados, um observador em um trabalho totalmente transgressor que honestamente não esperava chegar ao Oscar. Resta saber se a Academia vai mais longe e lhe dá o prêmio. A questão é: Quem iria buscá-lo?

Os Coen

10 indicações garantem ao remake de BRAVURA INDOMITA – um filme não considerado nos Globos de Ouro – o encontro anual que os irmãos têm com o Oscar. Merecido destaque que só aumenta a lenda dos Coen, cuja filmografia é a partir de agora o Olimpo de Hollywood.

As sombras…


A Itália

Fiasco. Que fiasco da Itália em esnobar EU SOU AMOR da seleção de filme estrangeiro. Sua indicação para Melhor Figurino apenas confirma a teoria: O filme tinha, sim, condições de figurar entre os cinco finalistas, aliás, ao Oscar! Embora também seja verdade que uma obra prima de época, DE DEUSES E DE HOMENS, ficou inexplicavelmente fora da corrida. Amigos, isto é Hollywood!

A ruiva

Praticamente todo o elenco de MINHAS MÃES E MEU PAI concorrem ao Oscar. Menos Julianne Moore. De novo sem vaga, nem como coadjuvante, nem como protagonista. Sim, sabíamos que não seria indicada, mas dói ver uma atriz talentosa ser esnobada por tanto tempo. Serve de consolo, pelo menos, não ter sido a única: As ausências de Jim Broadbent, Leslie Manville e Ryan Gosling são um vexame. Ok são apenas cinco vagas. Alguém teria que ser esnobado.

O sonho

Como disse Ana Maria Bahiana em seu blog: “Deixar gente importante e merecedora de fora faz parte do pacote e é conseqüência da natureza do prêmio, do seu sistema de votação e da peculiar mistura de gostos, amizades, inimizades, interesses que forma o, digamos assim, “inconsciente coletivo” da Academia”. Ok, Ana, mas justo Nolan? E de novo?

Então fica a dica para o diretor de AMNÉSIA, O CAVALEIRO DAS TREVAS e, agora, A ORIGEM: Esqueça os sci-fi geniais! As montagens fragmentadas! A técnica! Esqueça tudo e filme um drama de época, na boa e velha escola britânica de cinema (E escale Julianne Moore, por favor)

A inteligência

WAITING FOR SUPERMAN tem um ritmo, um tema, uma mistura de mídia com animação e senso de conexão humana que o mantém atraente e, às vezes, muito, muito, muito comovente. A Academia não concordou e esnobou um dos melhores documentários do ano. Pena!

O Suspense

O filme de Darren Aronofsky não falhou em nenhuma indicação de Guilda. Em tese, no Oscar seriam 10 indicações, mas a AMPAS não se interessa por esse tipo de gênero: O suspense, o giallo, o terror psicológico. Resultado: Cortou pela metade as indicações – e as chances – de CISNE NEGRO. Natalie Portman: Cuidado!

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