Folhas de Outono

Encontros e desencontros em uma Finlândia saturada de melancolia: Aki Kaurismaki filma tão somente as FOLHAS DE OUTONO da Europa, pessoas ao vento e subemprego que caem por aí, extenuadas de tanto trabalhar e pouco o que fazer além de sofrer de solidão. Lembra alguma coisa? Sim, o filme anterior O OUTRO LADO DA ESPERANÇA que, por sua vez, parecia o anterior O PORTO e segue adiante porque o cineasta se copia, mesmo que o faça com graça e inteligência, divertindo-se adoidado com seus habituais personagens de olhos arregalados. E novamente um conto de fadas, outro cinema minimalista de canções tristes e imagem tão ingênua e feliz como sempre o faz desde os anos 80. E de novo, um “proletário blues” de extrema sagacidade, pequenos anarquismos e gente maluca e atordoada. E por que não? Talvez seja o melhor de sempre do cineasta e, sim, a gente também se repete em gostar.

E afinal como não gostar? As piadas são leves, o cineminha é conciso e ainda há tempo para diversas apresentações de música ao vivo – e para notícias de guerra, ainda a guerra no rádio. Fala de amor, sempre o amor de duas pessoas que se conhecem timidamente em uma noite de bar e tentam encontrar um no outro o seu primeiro, único e último apego. O resto é realismo poético, daquele cinema gostoso retrô que liga sentimentos, sentimentalismo e compromisso social, isso em lugares como que fixados nos anos cinquenta, no máximo sessenta, com aquelas cores, os papéis de parede que já não são mais usados, os móveis antigos, as pinturas gastas. Um vintage sem encantos que se foi, o vento levou, porque agora são TEMPOS MODERNOS, diria Chaplin.

Logo, uma lição de perseverança, das mais sinceras que já se viu, a vida unindo e separando seus amantes silenciosos: eles vão se encontrar, se apaixonar, se perder, se reencontrar, se perder de novo, bem devagar, sem muito alarde, várias e várias vezes, ora porque um bilhete sumiu, ou um pileque que se tomou, ou pelo emprego que se perdeu ou então, o pior, um coma fatal, mas tudo volta como sempre, nada se perde, o que prova que o coração do diretor está bem vivo e ainda bate por seus personagens, de novo, e de novo, para sempre. Happy End.

RATING: 79/100

TRAILER

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FILMES · CANNES · TIFF · SAN SEBASTIAN · MOSTRA SP

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