De Volta à Corsega

Sim, DE VOLTA À CORSEGA, mas principalmente um retorno ao protagonismo de Aïssatou Diallo Sagna, outrora enfermeira que Corsini trouxe nA FRATURA, revelada, premiada, um toque de realidade àquela história que se foi e agora, sendo atriz, retorna ao reino da ficção com suas próprias histórias, o legado das culturas guineense e senegalesa, a relação com a terra natal, ou coisas mais concretas do que os penteados das mulheres. Um retorno ao seio familiar, alguns elementos autobiográficos da cineasta, da atriz, de outras mulheres, todos esses caminhos que se intercruzam em questões complexas de identidade e pertencimento. Então, na tela, um trio de mulheres essencialmente em silêncio, encontrando palavras para nomear todas as coisas não ditas eventualmente, ressignificação, repressão, reconciliação, pisando em solo ancestral, território amargo e violento, o mar de um lado, as montanhas do outro e, sempre em frente, na cabeça, na pele de alguém, afinal observar e compreender. Um filme universal portanto, universalmente simples.

Outros temas se somam aqui, a cena inicial confronta uma das protagonistas ao racismo, mas tal cinema não se trata tanto de racismo e mais de pertencer a um lugar e essa ideia de proteger o clã, sua cultura e ser capaz de se alinhar com o que significa ser da Córsega, onde tudo é percebido como estrangeiro e forasteiro. Então, de volta a Córsega, às raízes, às origens, ao passado e – de novo – falar sobre ausência, os tais silêncios.

Por outro lado, a exuberância juvenil das filhas, de Esther Gohourou e Suzy Bemba, esse cenário de verão, as noites quentes na praia, as festas que fogem ao controle, essa rebeldia com o qual a cineasta as filma, câmera portátil, muitas vezes sequências completas de improviso, um só corte, tenso, extenuante, feito na urgência e energia do momento, cria uma alquimia sutil à narrativa, uma leveza de descobertas, certa sensualidade que fica melhor ainda sob o bater implacável do sol e, sem dúvida, há calor aqui, uma abundância de temas que não cabem em duas horas de projeção e, portanto, ficam nas (boas) intenções. Afinal, são muitas histórias em únicas férias, e visto desta forma, este filme de verão é exatamente isso: um filme de verão.

RATING: 67/100

TRAILER

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FILMES · CANNES · RIO · FILMES LGBT

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