Deus é Mulher e Seu Nome é Petrunya


A cada ano, no dia de Epifania, segue a tradição de se lançar uma cruz de madeira no rio para que todos os homens mergulhem depois para procura-la em busca de sorte e prosperidade e isso em todo mundo ortodoxo, inclusive na Macedônia. Em 2014, uma mulher pegou a cruz e a carregou. Seu nome é Petrunya. E desse “ultraje”, a jornalista Teona Strugar Mitevska fez um filme. De fato, mulheres não estavam autorizadas a participar do evento. Tão pouco a fazer um cinema feminista, mas DEUS EXISTE, SEU NOME É PETRUNYA então que seja feito, e que mais mulheres saltem pela cruz no futuro.

E que assim seja: de uma sociedade patriarcal forjada para a dominação masculina, donde o status e o espaço social da mulher é decidido pelo homem, vemos um filme donde a protagonista não só é uma mulher gentil, mas também o símbolo da modernidade que se opõe a não um, mas dois establishments, a Igreja e o Estado. E sim, ela é impotente frente a ambos no começo. Ela é fraca ou quieta como preferem defini-la, mas diante da injustiça primordial, dela que nasceu em um mundo injusto e desigual, forçada a se justificar, a sua existência, seu propósito e papel, e isso desde sempre, ela se modifica, transcende e o faz para se tornar melhor e fazer melhor. Não é a primeira a fazer isso, contudo, tão pouco a diretora foi em seu discurso enfático. Simone de Beauvoir já o fez.

E Petrunya agora o faz, através da história, dos obstáculos que são colocados em seu caminho, ela carrega pesadamente a cruz em busca de justiça. E com ela, outros personagens, jornalistas, mães, o público, todos nesse cinema em marcha pelo progresso e donde Zorica Nusheva monopoliza praticamente todos e cada um dos planos, cada frame em sua presença imponente, o corpo, o olhar, os gestos, senão um belo registro de empoderamento e revolução. E porque sim, ela é uma mulher, seu nome é Petrunya e ela quer o além de seu mundo. E ela pode fazê-lo.

(*) Crônica livremente inspirada do material cedido pela Pyramide Films, incluso entrevista com a diretora e notas de produção
RATING: 75/100

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REVIEW · BERLIM · RIO · MOSTRA SP

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