O título soa distante, alguma poesia esquecida, o fiapo de uma memória, EU ESTAVA EM CASA, MAS… sugere um filme de Ozu, a antítese da realidade, um cinema como invenção ou em sua forma mais fantástica. A invenção é um menino que desaparece e reaparece. Ele está sujo, você vê pelo estado das roupas, ele provavelmente estava em contato com a terra, a natureza, talvez na floresta, mas você não o vê. Ao invés disso, o filme começa com animais. Um cachorro persegue um coelho, depois ele o come, isso numa casa abandonada. há também um burro assistindo o cachorro comendo. Então o cachorro descansa aos pés do burro.
Já o menino, este sumiu. Você o vê, o nome dele é Phillip. Ele aparece de novo, ao amanhecer no pátio da escola e o filme conta o que acontece dias, semanas, depois dessa ausência. A mãe compra uma bicicleta, mas ela quebra e é jogada fora. Phillip volta para a escola e faz uma peça de teatro com sua classe. Logo, torna-se claro que a viagem do menino teve consequências: ele é enviado para o hospital com envenenamento no sangue. A mãe não tem mais influência, nem controle, está à beira do desespero. Enquanto isso, o menino está calmo.
Isto significa que, por um lado, a vida continua no seu caminho, muito comum, mas por outro lado, há certa confusão. Parece que o cotidiano se faz de pequenos desesperos, o que por vezes leva a situações estranhas, talvez engraçadas. A comédia se encontra no humano, o humano se faz no dia a dia e, em algum ponto, o pai do menino se foi, o menino foi atrás, e atrás disso se fez um filme. Com ele, vai a mãe, a irmãzinha e o público, todos a caminho de um lugar bonito, de alguma forma perfeito. Eles descansam ali antes de seguir em frente. Você vê o menino, e depois vai embora, mas algo lhe falta. Você estava no cinema, mas… não sabe bem o que é. E Angela Schanelec naturalmente lhe conta, mas você não viu.
RATING: 72/100
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