The Sisters Brothers


Na febre do ouro, ou no rastro de antigos westerns, os últimos de Arthur Penn, por exemplo, O PEQUENO GRANDE HOMEM e DUELO DE GIGANTES, ou mesmo os grandes clássicos que vieram no crepúsculo do gênero, como ONDE COMEÇA O INFERNO, O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA e CREPÚSCULO DE UMA RAÇA, e entre o que se fez recentemente, de um lado os neoclássicos, APPALOOSA e BRAVURA INDOMITA, filmes que reativaram uma mitologia, com certa reverência pelos arquétipos e paisagens e, por outro lado, o cinema de Tarantino, DJANGO LIVRE e OS OITO ODIADOS, filmes irônicos, ultraviolentos, por esse período, Jacques Audiard fez um Faroeste. E depois o subverte.

Sim, ainda é um western americano nos termos do gênero, as aventuras picarescas de dois irmãos, Charlie e Eli Sisters, Joaquin Phoenix e John C. Reilly, dois assassinos impiedosos na bota de sua vítima, o idealista Riz Ahmed, só que diferente (ou inesperado?) porque esse é, digamos, pré-freudiano, pré-analítico ou, melhor, um bangue-bangue apaziguado. Em cena, os irmãos falam e falam e falam, algo incomum e pomposo para um horse-movie. São velhos cowboys, cansados e desgastados, desonestos e inseguros, tagarelas incorrigíveis e, daí o charme dessa película que conta em paralelo seu filme em pares, de um lado os irmãos, do outro Ahmed e Jake Gyllenhaal, cada par em cada canto. E o público imagina, tal qual TRÊS HOMENS E UM DESTINO, que o ponto culminante seja o encontro entre eles, o confronto final, mas longe disso: quando o quatrilho se encontra, começa outro filme. Então, a odisseia, sempre em frente e sem desculpas aos mortos e animais encontrados no caminho. E de volta ao lar.

Portanto um faroeste, leve e bem-humorado (sem ser superficial), comovente e pungente (sem ser meloso). Aqui, não há resgate de mocinhas dos índios, comboios de gado ou diligências ao Velho Oeste… Audiard pensa adiante, seu cowboy chora pelo cavalo morto, se masturba pela garota perdida e usa escova de dentes de maneira irreverente, uma forma de comunicação, um sinal de evolução. Também um discurso (e literalmente) social e humanista.

(*) Crônica livremente inspirada do material cedido pela Annapurna Pictures, incluso entrevista com o diretor
RATING: 73/100

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REVIEW · TIFF · VENEZA · SAN SEBASTIAN

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