Um casal recebe o convite para interpretar os papeis principais da antológica peça “O Caixeiro Viajante”, de Arthur Miller. E enquanto se encena essa história no palco, Asghar Farhadi encerra a trilogia que cerca A SEPARAÇÃO e O PASSADO nas telas: E novamente com um casal em ruínas, os dramas de um homem, uma mulher, ambos vendo sua vida – familiar e profissional – desabar à revelia. Uma projeção de verso e reverso, luz e escuridão, razão e paixão, isso no cinema, no teatro, nas entrelinhas, no conflito e na vingança. Nessa tênue linha que separa ação e reação, crime e castigo. Num apartamento em ruínas, no susto. No banheiro.
E de volta à Teerã, à família, à religião, às lutas de classes. E noutro filme social, moral, de vários ângulos, perspectivas e nuances porque é assim que as relações humanas o são: Extremamente complexas e especialmente dentro desse casal. O início é um colapso. E desse fato, decorrem as mudanças nos protagonistas, em Emad e Rana, e novamente os atores Shahab Hosseini e Taraneh Alidousti, isso física e mentalmente.
São, senão, dois caixeiros viajantes, aos poucos esmagados pela pressão, suas forças abaladas, sua estrutura em ruinas, em completo frangalho. Dois personagens em seus papeis, traçando paralelos entre os palcos e as telas, eles próprios em rota de colisão com outro caixeiro, seu destino em suas mãos. Seu coração, idem. Desse ponto se discute a humilhação, o filme em seu clímax, o público, os vizinhos (senão o “cliente”) com a respiração suspensa, porque na tela o quarto é um estrondo. As paredes tremem, a história nos abala. É um tapa. Feroz. Inesperado. Esse é o inferno que Farhadi tão sublime nos encena. E o inferno, sabemos, Sarte nos diz, são os outros. Antes disso somos nada. Escolhas basicamente, erros e acertos que moldam nossa conduta. Somos tão somente clientes desse destino.
RATING: 83/100
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