

Com quase 150 minutos de projeção, L’AMOUR OUF brinda o público com uma cena-chave capaz de provocar delírio – e, no caso de um espectador mais exaltado, até um grito de euforia. E ele estava certo em expressar o que todos sentíamos por dentro: um turbilhão de emoções entre sorrisos, lágrimas, arrebatamento e torcida. Gilles Lellouche nos surpreende de todas as formas possíveis, reinventando-se dentro de sua própria filmografia e entregando, agora, um drama shakespeariano de encontros e desencontros, onde três gerações de atores aprendem e recitam a palavra “amor” em todos os seus tempos, modos e intensidades. Assim, o cineasta domina a arte de contar histórias e conduzir seu público, algo evidente já nos créditos iniciais, que arrancam aplausos com um prelúdio apoteótico, mas segue ainda em impressionante mise en scène para nos levar ao musical tão prometido: puro sonho, LA LA LAND e, naturalmente, promessa de sucesso e bilheteria.
Na tela, uma história de amor à beira do abismo, intensa e irrefreável, mas ancorada na luta de classes. Ela, sonhadora. Ele, delinquente. BONNIE & CLYDE reinventados com ecos de rebeldia dos anos 80, entre O SELVAGEM DA MOTOCICLETA e VIDAS SEM RUMO, vivendo um AMOR, SUBLIME AMOR tão excessivo, obsessivo e inacessível que parece prestes a se romper. Lellouche filma, então, o amor em estado crucial, abraçando todos os clichês e fórmulas do cinema popular – familiar, físico, filial, sentimental, fraternal – mas faz isso com a intensidade de quem ama sem reservas e donde o amor é vivido, cantado e inserido num universo que oscila entre filmes de bandidos e comédias românticas.
Dessa fusão crua e visceral, nasce uma linguagem que dialoga com o ritmo frenético da era TikTok, onde a música assume o papel de fio condutor. E que seleção! As cenas ressoam ao som de The Cure (“A Forest”), Billy Idol (“Eyes Without a Face”), Prince (“Nothing Compares 2 U”), Daft Punk (“Rock ‘n Roll”) e Deep Purple (“Child in Time”), compondo a trilha (ou seria ambição?) perfeita para uma grande novela, uma espécie de O CONDE DE MONTE CRISTO para a geração millenials. Mas, diferente da vingança amarga, aqui há generosidade, espetáculo e cinema pipoca em estado puro. Não à toa, L’AMOUR NEUF sucede o sucesso de UM BANHO DE VIDA, pois compartilha a mesma alma: o amor pela vida e, acima de tudo, pelo cinema – esse sentimento imediato e imperecível. Um amor novo, como já anuncia o título.
RATING: 71/100

TRAILER
