FIGLIA MIA é a história de uma jovem entre duas mães. Uma história de maternidade imperfeita e sentimentos esmagadores. Uma jornada, donde três figuras femininas se procuram, se amam e se odeiam, mas eventualmente aceitam suas imperfeições e continuam adiante. Um filme que pertence igualmente a cada personagem e, portanto, três pontos de vista diferentes: a de Vittoria (a jovem Sara Casu), a de Angelica (Alba Rohrwacher) e de Tina (Valeria Golino), três personagens cujo passado foi quebrado em algum momento e, desse ponto, devem iniciar – cada uma – sua jornada de redenção (e descoberta). Três mulheres que compartilham entre si um vínculo profundo e forte, unidas secretamente pelo nascimento de Vittoria e, portanto, “questo amore non si tocca”, como se diz a canção.
Então, surge a tempestade e, com ela um conto de maternidade, isso no singular e no plural, que parte de um sentimento mais arcaico e tenta abrir a discussão para algo mais contemporâneo e donde a cineasta – Laura Bispuri – sempre busca o equilíbrio, de maneira diferente, mas igualmente entre suas atrizes. Isso na Sardenha, nessa ilha de muitas facetas pelo caráter lírico e fantástico, a natureza áspera e concreta, no calor escaldante, dourado e paradisíaco de cada cena e donde o tradicional coexiste com o moderno. Um lugar que explode com força descomunal, a mesma força dessas mães. Esse amor em transe que surge bravio, sedento e famélico. Esse vínculo que só cabe à mãe (e qual mãe?). Eis o drama.
E ao centro, essa menina, Sara Casu, que veio da própria Sardenha e, que nos encanta com seu silêncio e seus vermelhos. Uma jovem em busca de sua história e a mãe ao qual pertence, confrontada com dois modelos tão diferentes entre si e ambos malsucedidos à sua maneira. De um lado, a revolução, a personagem de Alba que busca a filha quando tudo o mais se perdeu. Que deseja ensina-la a vida real, o que a poeira, o sangue e o vento são, a confrontar seus medos, torna-la mais destemida, embora ela própria tenha algo a esconder. E do outro, o conforto, a personagem de Valeria, a mãe perfeita para uma filha perfeita, isso construído sobre esforços diários, hábitos, crescimento, suor, educação e ternura. Incapaz de imaginar que tal relação pode ser arruinada, mas pode sim, porque existe um segredo e isso coloca tudo em jogo. E é desse confronto, o amor de mãe incólume, simples, genuíno, que a cineasta filma sua história, o duelo, a guerra por essa filha, FIGLIA MIA.
(*) Crônica livremente inspirada do material cedido pela The Match Factory, incluso notas de produção e entrevista com o diretor
RATING: 66/100
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