O Conto das Três Irmãs

O CONTO DAS TRÊS IRMÃS, um conto sem fadas de três crianças levadas para adoção para ali trabalharem como criadas. Não são filhas, não são servas, são “beslemes” como diz a tradição. Então, ERA UMA VEZ NA ANATÓLIA, três irmãs de uma pequena aldeia que são enviadas para a cidade como “beslemes”. Ali cresceram, ali viveram, não seriam ao certo “filhas” porque trabalhavam, tão pouco “empregadas” porque eram adotadas. Então, as três viviam no purgatório e de lá não queriam sair, mas quis o cruel destino que um dia voltassem e lá vivessem na casinha do seu velho pai. E agora são três filhas, três irmãs que resistem em ser separadas, mas dificilmente saberiam ficar juntas.

E pelo conflito e ambivalência, no mais familiar e humano, Emin Alper filma um drama rústico sobre submissão e opressão, a história de três mulheres que seguem seu destino mesmo sem qualquer esperança de liberdade ou emancipação. Cada uma com sua história (ou infortúnio?), ali contado da forma mais pictórica possível, no discurso simples, na conversa fiada, a câmera do cineasta repousando nos rostos e nas palavras e deixando seus personagens falarem, e isso ao redor da lareira, da mesa, ao ar-livre. Um melodrama discursivo de rostos suavemente chorosos e estranhos desvios pela comedia, nada muito cruel ou violento, apenas a realidade, tal como ela é na Anatólia.

Também um filme etnográfico de velhos costumes, vidas pastorais e pequenos desfavorecidos, uma aldeia separada do resto do mundo, há muito tempo esquecida e engolida pelas montanhas, e donde se constrói uma parábola de contradições e tensões ocultas sob um aparente refúgio conciliatório. E esse é o limite de um filme muito bonito, por vezes duro e realista, mas também tão sonhador como o chiaroscuro de um conto de fadas. Embora aqui, sem fadas.

RATING: 72/100

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FILMES · BERLIM

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