Pílulas de uma Mostra em Quarentena

Por Eduardo Benesi

Dia 1

E então outra Mostra começa, no ano-desastre trocamos a esperança por cinema, seria mais ou menos isso? Começou a Mostra e ainda não sei se voltei ao cinema, na verdade, não sei bem se voltei, ainda sofro, triste também por imaginar o cinema vazio, a ex-cinemateca, o ex-cine-cultura, o ex-Brasil, vazio de dar eco, e então penso que há 11 anos repito esse mesmo ritual, me materializo em duas ou três viagens diárias, dessa vez em casa, tento ser justo ao cinema, mesmo hiperativo, mesmo distraído de tudo. Olhos atentos, celular, olhos atentos, distração, olhos atentos, pesquei, olhos atentos até os próximos olhos atentos entre desatenções. Em 2020 não estarei com a minha mochila da Mary Poppins que dentro tem João, Maria e quais doces você quiser. Na Mostra 44 tudo o que eu quero é qualquer rastro de esquecimento paliativo e enquanto isso o cinema.

Vamos então. Teve esquenta, várias cabines e e-mails da Leila. Começamos pelo novo da Kawase, arrastado, mirando no bom drama e acertando Glória Perez. Se eu disser que consegui me fixar em LIMIAR estarei apenas forçando uma rima, o filme é ruim de preguiçoso. O documentário sobre Kubrick é bem engana-fã, um podcast que podia durar 10 minutos, umas colagens do repertório e eu quase fui enganado pela nostalgia, MISS MARX me pareceu aquele lacre sem novidade, é quando Marx encontra Odara. MOSQUITO tem boas ambições enquanto mise-en-scène, mas me pergunto até quando o fetiche pela escravidão? APENAS MORTAIS é comovente, mas pouco original e se alguém me perguntar sobre MATE-O E DEIXE A CIDADE, eu talvez minta que não gostei, mas na verdade o vi sem ter visto. 17 QUADRAS é o mesmo caso, só que esse pega mal dizer que não prestei a atenção devida; agora já foi. Forte mesmo é o doc da Chechênia (foto), é um alarme sobre a homofobia em seu pior idioma, olhar esse material e pensar que estamos nesse mesmo mundo, ainda bem que longe. A Mostra começou morna, mas se não deu certo é porque mal começou, tenho fé nesse adiante, nesses próximos 14 dias dessa mistura distanciamento físico e euforia social.

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FESTIVAIS

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