Amants

A primeira cena de AMANTES (LOVERS) é a descoberta do casal original, Lisa e Simon. Seus corpos nus se destacam gradativamente de um lençol negro que os abraça ou devora. Este tiro é de fato um aviso: A tragédia, em vã felicidade, anuncia sua chegada. Há tragédia nesses personagens, isso é certo. Então Nicole Garcia a filma, aos poucos, a partir de um fragmento de ideia, um detalhe, o risco. Você pode classificar essa história como um noir ou um suspense folhetinesco por sua ambientação, a forma de apresentar os personagens, o cenário gélido, a mise en scène acinzentada, o presságio de um assassinato (!). É como se os personagens estivessem em constante perigo e a cineasta cirurgicamente criasse medo em frames controlados e sublimados. Tal cinema é refém, está sob ameaça.

Desde o primeiro ato, a morte se convida a entrar. Lisa e Simon são jovens, são lindos, sempre se amaram. É o típico clichê do melodrama, mas logo a morte surge, sorrateira, terrível. É acidental, claro, mas Simon está preso ao que fez. Isso o isola. E a projeção se estilhaça completamente em três atos, três personagens, três cenários… talvez um eco geográfico de um triângulo amoroso. Mais concretamente, a história assume um ritmo tripartido, oscilando entre os personagens, os atores – Pierre Niney, Stacy Martin e Benoît Magimel – quicando em cena nas elipses e lugares dessa narrativa, aprofundando as personalidades, as emoções, os segredos dos amantes sujeitos ao voo do tempo.

A consciência culpada carrega a película. Existe os amantes e existe a cena do crime e mesmo nas lindas águas azuis do Índico a fotografia é escura, pesada como uma dolorosa lembrança, a marca indelével do momento fatal que se vive e se luta para apagar. O destino é duro. As escolhas são amargas. Da ingenuidade de um romance que começou na vida urbana e noturna dos jovens, segue-se outros mundos, outras pressões sociais, donde o dinheiro, o luxo, o vazio circula de forma rápida e abundante. Barreiras se erguem, se tornarão mais humilhantes, isso tanto nas relações sociais, cada vez mais nítidas e restritas, quanto nas relações mais íntimas, marcadas pela aspereza deste mundo onde não podemos mais brincar sem nos machucar. A câmera, então, se volta à Lisa e seu círculo de fogo. Ela, a presa de dois amantes. Ela, a ambivalente “femme fatale” de um filme francês. Sim, a tragédia lhe seguiu de perto, isso é certo.

(*) Crônica livremente inspirada do material cedido pela Les Films Pelléas, incluso a entrevista com o diretora
RATING: N/T

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VENEZA · PREVIEW

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