É somente o fim do mundo: Outro filme de Xavier Dolan que, ame ou deixe, filma como se fosse o último plano de sua vida, como se quisesse colocar toda a poesia do mundo em cada personagem. A câmera lenta, a música alta, os momentos de indescritível beleza, de um magnetismo histriônico, o apressado desgarre, a montagem extremamente ágil. Ou não, porque desse “infant terrible”, esperamos tão somente opiniões exaltadas ou radicais.
E aqui, aos passos de Gaspard Ulliel, um escritor de volta à mãe, à irmã, ao irmão e a cunhada para informá-los que irá morrer. E esse é o fim. Ou apenas o começo dos risos ou excesso. Em primeiro plano, um homem que emerge das sombras, 12 anos depois de ali se esconder e nesse teatro em família, de brigas, discussões e não-comunicações. A câmera de Dolan em eterno close-up em seus atores, o texto de Jean-Luc Lagarce gritado, declamado, cuspido na tela. Nesse ritmo, a entonação, a saturação, as cores, acompanham o turbilhão, senão a tempestade, a histeria pop, essa massa disforme de vozes, brigas, lutas e corpos.
Ao centro, o protagonista se encarcera na auto piedade, nos silêncios absortos e num sorriso impávido, enquanto os coadjuvantes orbitam ao seu redor: Nathalie Baye, a mãe histriônica, inocente e ignorante; Vincente Cassel, o irmão caçula, complexado e exagerado, quase no limiar do irritante; Marion Cottilard, a cunhada distante, ausente e eclipsada; por fim, Léa Seydoux, a irmã sensual ou a personificação da rebeldia. Todos enclausurados nesse fim de semana, nesse kamikaze audiovisual, distantes um dos outros, o público idem, desconexos, histéricos, verborrágicos. O texto sem qualquer evolução, sem nenhuma revelação, apenas essa revolução, a explosão latente no circo familiar. Incomunicáveis. Paranoicos. O filme é um caos. O inferno. Não há pausas. Respiros. O tempo se perde, o cuco voa pela tela, eletrizado. O final é um silencio sepulcral. Dolan, desta vez, dá um passo para trás e um passo em falso.
RATING: 35/100
TRAILER