Canção para um Doloroso Mistério


Primeiro foi BATANG WEST SIDE, sua estreia, um choque, quase cinco horas de (intensa) projeção. E isso em 2001. Depois, se seguiu mais onze horas da EVOLUÇÃO DE UMA FAMÍLIA FILIPINA, nove dA LENDA DA PRINCESA LAGARTO, outras nove de MORTE NA TERRA DOS ENCANTOS, oito de MELANCHOLIA, seis dO SÉCULO DO NASCIMENTO, mais seis de FLORENTINA HUBALDO, quatro de NORTE: O FIM DA HISTÓRIA e seis DO QUE VEM ANTES… E agora, por essa hipnótica correnteza de quase 15 anos, nos deparamos com mais oito horas de mistérios dolorosos, de uma triste canção de ninar, de um cinema dito emancipado, senão a luta quixotesca da (e pela) humanidade.

É, afinal, a peleja do homem contra o tempo. Esse tempo que se esvai, se consome, se perde a cada dia. E eis a (grande) revolução: De um cinema que se (d)encanta no tempo de projeção. Do épico hino de Jocelynang Baliwag. Da balada de um herói abandonado em busca do falecido pai, Andres Bonifacio.

Ao redor, perdura a pátria, a guerra, conquistadores e conquistados, abusadores e abusados. O fim de quase 300 anos de opressão e colonização. Essa é a história, a literatura, a mitologia. Também um gigantesco filme, literal em todos os sentidos, ali, preto no branco, imediato, direto, sem qualquer adorno. Apenas a natureza e seu espaço como meio de imagem e movimento, dure o tempo que levar porque cada personagem, sua existência, sua motivação, cada luta, a cultura, o povo, tudo leva seu tempo.

Dessa narrativa, se descreve outra crônica da humanidade, senão a luta filipina pelo qual orbitam o discurso, as épocas, os eventos e o passado. E a cada ano, década, século, tudo girando e girando e girando nesse circulo, donde o fim é o início. O início é o fim. O tempo todo… E desse modo, diante do passado, o passado se tornando presente, o tempo voa, cria um imediatismo, ou mesmo uma urgência, ou mesmo transcendência. A história se tornando um espelho do nosso ser. E isso tão naturalmente, tão poeticamente que, ao final, se foram as tais oito horas e nem percebemos. O cinema se apropria disso. Desse tempo. E Lav Diaz sabe fazê-lo perfeitamente.

(*) Crônica livremente inspirada do material cedido pela Films Boutique, incluso a entrevista de Lav Diaz
RATING: N/T

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BERLIM · SAN SEBASTIAN · MOSTRA SP · PREVIEW

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