No coração da loucura, dita ciência, dito tratamento, encarcerado pelo medo e violência, por grades e choque, na tela em tons de azul e tristeza, muitas pessoas, assim à esmo, na esmola, os pensamentos perdidos, esquizofrenia, eis uma mão, um afago, um pouco de silêncio e compreensão, um giz para desenhar, uma semente para plantar, uma bola para brincar. Os trapos. A perda. Um tapa. Eis à terapia de choque. Também um filme de Roberto Berliner.
Aos poucos se desenha uma história, um trabalho, uma biografia. Surge música. Primeiro os rabiscos, depois geometria, desenhos aleatórios, talvez arte. As janelas se abrem. Se põe uma roupa bem bonita. Um pouco de cor. Argila que se molda, mentes que se trabalham, bem pouquinho, com carinho.
Borrões. Círculos. Mandalas. Imagens do (in)consciente. Do (a)normal. As janelas se escancaram. E quanta luz: Emoções. Instintos. Gente ocupando se de vida. Pertencendo a sua época. Daqueles outrora farrapos. Hoje pessoas. Um belo filme, uma bela história. De Nise da Silveira. De Gloria Pires, filmado num tom correto, sem muita extravagancia, sem muita cinematografia. Apenas esse trabalho, apenas dramaturgia. Um pouco de novela, e porque não?
RATING: 66/100
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