Pot-pourri de momentos e canções inesquecíveis, saudosos fragmentos de cinema que nos remetem à Demy e Fellini e muitas, muitas sessões de terapia é o que nos promete o “radiante amanhã” de Nanni Moretti: um desfile de circo com elefantes e comunistas, vários esquetes de autor neurótico, saltos temporais, filme dentro de filme e um delicioso egotrip. Uma comédia de malabarismos, portanto, mais O MELHOR ESTÁ POR VIR porque o cineasta foi ao Cinecittà para ele próprio brilhar sob os holofotes, megawatts de luz artificial, cores brilhantes e cenários pintados, se (auto) dirigir em outro filme, esse sobre revolucionários e palhaços, afinal a grande magia de fazer cinema e – para nosso deleite, um momento What the Fuck – vender sua arte.
Quase em uma releitura contemporânea de 8 ½, Moretti enforca as fronteiras entre o biográfico e a ficção: seu filme, como outrora o de Fellini, retrata um diretor que se encontra em crise criativa, mas não esconde seus problemas, pelo contrário, fala deles abertamente e com humor. O protagonista depende há muito de antidepressivos e comprimidos para dormir, a insônia pelas dificuldades, a falta de financiamento, as confusões do set, o lidar com o elenco, mas não vai desistir. Moretti prova que os fracassos na carreira – TRE PIANI entre eles – podem se tornar um catalisador para o renascimento, basta não se envergonhar, mas aproveitar o fracasso para um novo amanhã.
Tão conhecido pelos melodramas familiares, um cinema de pessoas tristes, o roteiro aqui vai no oposto: uma singela comédia, ainda que mordaz, mas irresistível, um filme de utopias e histórias de amor, donde o protagonista resmunga o tempo inteiro, quase no estilo de Woody Allen, mas sabe sorrir, com ele o público entre tantas referências cinéfilas – aqui está Jacques Demy, John Cassavetes e Krzysztof Kieślowski. A comédia é que ele absolutamente não sabe lidar com seu filme, os atores, os membros da equipe, nem a persuasão, nem a autoridade, nem a presença do número de Martin Scorsese no telefone ajudarão, mas ele segue quixotesco, apesar de tudo. Literalmente, o título é traduzido como “O Sol do Futuro” – e é esse sol (o cinema?) que inunda a trama, uma sensação boa.
RATING: 74/100
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