Jeanne Du Barry

Escandaloso. Ultrajante. Subversivo… JEANNE DU BARRY é um filme sulfuroso, já o prometia ser desde o casting de Johnny Depp – Gérard Depardieu havia desistido desse papel – e o ruido só foi além com a decisão de abrir o Festival de Cannes. É um cinema, tal qual sua protagonista, prostituído, entregue à exposição pública, aos pecadores, afinal uma fofoca inofensiva: quem poderia aceitar um degenerado(a)? ou um bastardo(a)? Então, na tela, Jeanne é a filha da puta, filha de mãe cozinheira e pai monge que jamais conheceu. Ao seu redor vão gravitar cafetões, libertinos, predadores, por fim o rei. Fora dela, Maiwëen dirige esse suspense, os holofotes do desconforto, a intriga dos bastidores, a cultura do cancelamento, o marketing é senão perfeito.

O roteiro nos põe no séc. XVIII, donde a cineasta interpreta a própria fantasia da mulher pública, isso em um patriarcado donde as mulheres deveriam ser invisíveis e, caso notadas, seriam de um incomodo notório. Prostitutas, portanto. Depp é igualmente público: o rei cuja vida é devassada, esmiuçada, atacada. O argumento naturalmente zomba desses percalços, alimenta as anomalias, os seres desnaturados, de má vida, monstros indefesos, e os leva aos frufrus de Versailles: Jeanne Du Barry é o escândalo da corte, fato, a favorita do rei. Isso para o imaginário correr solto, os fuxicos idem.

O que nos leva ao argumento de um gigantesco tribunal de costumes, donde todos – publico, povo, corte – apontam o dedo à mulher (ou ao ator?) e tão somente deliberam a sentença. O fazem sobre criatura(s) humanizada(s), uma mulher em busca de ambição, um homem em busca de redenção, ambos à cama do rei, mas nada sórdido porque a química praticamente não existe. O júri surta. O público adormece. E nada demais porque amanhã haverá outro rei e outras guilhotinas.

RATING: 65/100

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REVIEW · CANNES

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