A Vingança é Minha, Todos os Outros Pagam em Dinheiro

É do Tarantino? Não é… mas parece esse delirante VENGEANCE IS MINE, ALL OTHERS PAY CASH: um fetiche mambembe bem anos 70 (ou 80?), jeitão único de misturar referências cinematográficas, uma fotografia VHS de 16mm, trilha sonora retrô bem bacana e esse esmagador liquidificador de estilos, filmes e autores, senão o pastiche de artes marciais, romance meloso e climão Bollywood. Na verdade, o filme é do indonésio Edwin, o texto adaptado do romance homônimo de Eka Kurniawan e o cinema que lute para absorver tudo: a história de gênero e sobre o gênero de um assassino de aluguel que não teme nada além de sua própria impotência vergonhosa. E apesar do passarinho sonolento, o ukelele que não toca, o sangue ainda flui pelo coração do protagonista, ele perdidamente apaixonado pela guarda-costas de uma de suas vítimas. Então, tome tumulto tumultuado, muita libido e altas confusões, porque a emoção não tem limites nesse revival da Sessão da Tarde!

Parece simples? De fato é: o puro estrato do cinema de ação e aventura, muito soco (Pow!), muito chute (Ooof!) e chaves de braço (Aaahh!), para tão logo todos irem para a cama (Ooooh!). Ou não… porque o pirulim não se levanta e não tem brincadeira. Edwin se diverte adoidado com isso, faz o panfleto emasculado, a crítica social, o discurso político sem que o público sequer sinta. Seu filme é muito livre, uma motocicleta desgovernada pela tela, duas horas que passam voando, muito rápido, nossa, acabou! E depois, esse amor doce que escorre pela projeção, toda a vontade de apertar as bochechas de tão bonitinho.

O resultado é um conto popular com todos os seus impulsos e desejos. Uma peça de clichê pé no chão, que se lança ao infinito e tateia onde pode, pelos filmes B, o drama de caminhoneiro, o filme de prisão, as comédias adolescentes e soma e segue com perseguições, lutas massivas, gângsteres terrivelmente malvados e até mesmo um fantasma inquieto. Tem de tudo. Sério. Edwin tão somente estoura a pipoca e nos deixa um filme de gangues e luta de heróis, isso envolto na cultura pop de vingança e um surreal pensamento crítico sobre a sociedade que sofre corrupção, violência policial e machismo selvagem. Não é pouco… é muito mais: “guilty pleasure”.

RATING: 74/100

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