Ave, César!

Ave, Cesar! Ave, os Coens! E do apogeu de Hollywood, da idade do ouro, desses tempos modernos, dessa constelação incalculável de estrelas evocando ao passado, à uma era que o vento levou, se foi, se perdeu, vemos em princípio um sequestro, um incrível mistério e Ave, Cinema! Um drama pelos bastidores de uma indústria, tantos filmes, a “Lua Preguiçosa”, a “Dança Feliz”, o humor inesperado, o crime ingênuo, para aqui se deleitar, divertir e depois, claro, QUEIME DEPOIS DE LER (ou ver).

E é nesse turbilhão que se filma Josh Brolin e sua inesperada rotina de comandante na “Capitol Pictures”. E isso inclui (e bem cedo) evitar que a polícia leve uma atriz por “comportamento indecente”, negociar com a “santa” igreja a produção de um novo filme bíblico, lidar com as neuroses de um diretor (veja só, o famoso Laurence Laurentz), ou manter-se longe das “Asas da Águia”, dessa imprensa ferina, avida de fofoca, que surge do nada e do nada sugere. Cada dia, um novo “probleminha” e ao protagonista (UM HOMEM SÉRIO? Cansado?), cabe encontrar a solução. E fazê-lo de desastre em desastre, tragédia em tragédia, estrela à outra, até, por fim, a maior crise de sua carreira, o sequestro de um galã, até então o maior caça niqueis do estúdio, e justamente durante as filmagens da imensurável produção de espada-e-sandália, “Ave, César!”.

Sim, um delicioso tributo à Hollywood, aos estúdios, aos anos 50, enquanto os cineastas, de esquete em esquete, rapidamente puxam as cortinas do espetáculo para revelar as rachaduras de uma época, o principio da ruína, a queda dos monopólios, a hipocrisia da produção, distribuição e exibição de tais sonhos, tudo à mercê da impiedosa televisão, enquanto lá fora se vive a histeria, o macarthismo, os comunistas, senão a Guerra Fria. Claro que Hollywood respondeu a estas ameaças, reais e imaginárias, pelos blockbusters sensacionais e irrealistas que entregaram: Épicos bíblicos com milhares de figurantes, ousados musicais “Technicolor” e coreografias aquáticas à Busby Berkeley. Uma maquina bem lubrificada, tal qual um feudo. Cada estúdio controlando seu pessoal em pormenores: Astros e estrelas em códigos rígidos de etiqueta, senão meros trofeuzinhos de estante. Não havia espaço para personalismos, teimosia ou rebelião. Para isso havia um especialista. Para isso havia o personagem de Josh Brolin.

E aos calcanhares do protagonista, misto de Eddie Mannix e Howard Strickling, lendários por essa função na MGM, os irmãos filmam com grande respeito e admiração esse universo em deliciosas citações e caracterizações, o texto sempre afiado, o elenco em piada interna, a nostalgia em plena ostentação. Sim, uma carta de amor ao cinema. E ao negócio de fazer cinema. Puro show business!

(*) Crônica livremente inspirada do material cedido pela Universal Pictures
RATING: 74/100

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FILMES · BERLIM

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